quarta-feira, 25 de julho de 2007



"O verdadeiro e olvidado nome de Ipavu era Paiap mas como Paiap falava muito em Ipavu, a lagoa dos camaiurá, os brancos tinham trocado o nome dele pelo da lagoa e Paiap tinha despido o nome verdadeiro com a indiferença, o alívio de quando, roubada ou ganha uma camisa nova, jogava fora a velha, molambo roído de barro branco, de urucum vermelho, de jenipapo preto, vai-te, camisa, pra puta que pariu, dizia ele pra fazer os brancos rirem que branco, sabe-se lá por que, sempre ria quando índio dizia palavrão ensinado por branco. Ipavu não queria por nada deste mundo voltar a ser índio, comendo peixe com milho ou beiju. Queria viver em cidade caraíba, com casas de janela empilhada sobre janela e botequim de parede forrada, do rodapé ao teto, de bramas e antárticas. Índio era burro de morar no mato, beber caxiri azedo, numa cuia, quando podia encher a cara de cerveja e sair correndo na hora de pagar a conta. Ah, se Ipavu pudesse carregar Uiruçu para o botequim não ia mais nem precisar fugir na hora de pagar o porre, que era só exibir a lindeza de Uiruçu, harpia chamada dos brancos, as asas de flor de sabugueiro, penacho alvo, ou então mostrar aos botequineiros recalcitrantes o olho de Uiruçu, miçangão de puro assassinato."

("A expedição Montaigne" - Antônio Callado)

terça-feira, 24 de julho de 2007

mar ou ilha

eu quero o mar,
para me banhar e me purificar.
eu quero uma ilha,
pra pensar o que fazer da vida.
mas eu prefiro o mar.
mas eu prefiro a ilha.
mas eu quero mar.
e eu ilha.
mar!
nao, ilha!
mar!
ilha!
mar!
ilha!
entao vamos pro mar!
entao vamos pra ilha!
vamos pro mar! vamos pra ilha!
mar!
ilha!
mar!ilha!

sexta-feira, 20 de julho de 2007

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Vida Noturna



Acendo um cigarro molhado de chuva até os ossos
E alguém me pede fogo - é um dos nossos
Eu sigo na chuva de mão no bolso e sorrio
Eu estou de bem comigo e isto é difícil
Eu tenho no bolso uma carta
Uma estúpida esponja de pó-de-arroz
E um retrato meu e dela
Que vale muito mais do que nós dois
Eu disse ao garçom que quero que ela morra
Olho as luas gêmeas dos faróis
E assovio, somos todos sós
Mas hoje eu estou de bem comigo
E isso é difícil
Ah, vida noturna
Eu sou a borboleta mais vadia
Na doce flor da tua hipocrisia

J.B.

terça-feira, 10 de julho de 2007

deixe-me sozinho por hoje
os cigarros e cafés me bastam...
para pensar
andei por caminhos errados
por longo tempo...
e agora a chuva cai
em meus ombros cansados
de tanto tentar lutar, em vão...
que a correnteza me leve
para longe
para um oásis tranquilo
terra firme uma vez mais
por você parto agora
para que fique bem...
distante de mim que tanto errei...
que a chuva caia uma vez mais
até o amanhecer de um tempo
em que eu seja melhor
para mim...
um tempo em que possa voltar
se não para você...
ao menos que eu possa viver

CH

sexta-feira, 6 de julho de 2007

"Morte e Vida Gramática"

O participativo particípio patrício
O gerúndio gerando incoativos
Nascendo...
Ao nascer se vive,
Ao viver se morre,
E ao morrer...
Quem sabe não se forma um novo incoativo?
A única certeza é que voltamos
Voltamos ao primeiro verso,
E para os que ficam,
É como se já estivéssemos morrido

CH
Andar no ar, parar de pensar. voar por todos os cantos do céu.
Olhar sem ver, falar sem dizem e ser somente o agora.
O universo gira em mim o tempo é ilusão...
Dô de volta o que não quis só pra ser feliz...
mudo regras e sinais, viro contramão...
e o que eu fui eu não sou mais...
só sou imaginação... O que vem, se vai...
nada é permanente nem igual e continua a mudar...
quero ir além, ver o bem que está dentro do mal e aprender aceitar.
Eu ando zen eu ando ninguém e deixo as dúvidas soltas no ar...
não sei dizer e nem quero saber, nem tento adivinhar...
um mergulho em outra em outro mar, no fundo da questão...
troco tudo de lugar, mudo de estação... eu nasci pra inventar, recriar do nada...
aprender a caminhar pela margem da estrada.

CH

terça-feira, 3 de julho de 2007

''ser e ter"

Tem quem é ,e tem quem tem,
quem tem não é , mais quem não tem que...
quem tem conhece ,quem é entende
quem tem compra , quem não tem vende...
quem é vive , quem tem vegeta,
quem é queima, quem tem ingeta...
quem tem degrada , suja , destroi,
o mesmo chora , pois o "ter" corroi...
quem tem ... inveja quem é
quuem é sempre quiz ter..
e quando isso acabar ,ambos passarão a ser!!