domingo, 30 de dezembro de 2007

Corot Mata!


Já que a cachaça está em voga, gostaria de fazer um adendo: Corot mata! Aos amigos pinguços, é melhor ficar careta do que ficar dois dias lesado dessa pinga do mau!
Os dias estranhos nos encontraram
Os dias estranhos nos perseguiram
Eles vão destruir Nossas raras alegrias
Nós temos que seguir em frente
Ou encontrar uma novo abrigo

Olhos estranhos ocupam salas estranhas
Vozes anunciarão o seu cansado fim
A anfitriã está sorrindo
Seus hóspedes dormem ...
Os dias estranhos nos encontraram
Os dias estranhos nos perseguiram
Eles vão destruir Nossas raras alegrias
Nós temos que seguir em frente
Ou encontrar uma novo abrigo

Olhos estranhos ocupam salas estranhas
Vozes anunciarão o seu cansado fim
A anfitriã está sorrindo
Seus hóspedes dormem em pecado
Me ouça falar sobre o pecado
E você saberá que é mesmo assim

Os dias estranhos nos encontraram
E por suas horas estranhas
Ficamos sozinhos à espera
Corpos se confundem
Memórias são mal usadas
Enquando trocamos o dia
Pela estranha noite de pedra...

Cancele minha inscriçao para a ressureiçao....

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

mesa do bar

e talvez nestas garrafas
ou nesta mesa de bar
eu encontre o lirismo
que agora tento salvar
e esta vida que pulsa
e recorda outra no lar
e de todo ser presente
que agora é onda de mar
e copos cheios e vazios
onde tudo é meditar
veemente protesto da vida
para nao se acabar

wagner jorge em poesias da madrugada

bebo

eu bebo
para lembrar
e esquecer
eu bebo
para alegrar
ou entristecer
eu bebo
para esquentar
ou esfriar
eu bebo
para saudar
ou _____
eu bebo
para amar
ou odiar
eu bebo
pelo tudo
ou pelo nada
eu bebo
sempre bebo
por algo
ou para algo
ou contra algo
eu bebo
bebo à vida
e as vezes
ate à morte
bebo agua
vinho
cachaça
ou ate a lagrima
eu bebo ate...leite
mas bebo convicto
que sempre bebo
bebo para ser
ou...naoser
como saber?
se eu bebo
para nao saber!

wagner jorge em poesias da madrugada

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

TAZ, pela Wikipédia




T.A.Z.: The Temporary Autonomous Zone
, mais conhecido somente como TAZ, em português T.A.Z.: Zona Autônoma Temporária. Caos, Terrorismo Poético & Outros Crimes Exemplares é um livro escrito por Hakim Bey (pseudônimo de Peter Lamborn Wilson) em 1985

A idéia sobre uma Zona Autônoma Temporária é de como um grupo, um Bando, uma coagulação voluntária de pessoas afins não-hierarquizadas podem maximizar a liberdade por eles mesmos numa sociedade atual. Em linhas gerais é uma organização para a maximização de atividades prazeirosas sem controle de hierarquias opressivas.

Embora Hakim Bey escreva um livro inteiro sobre TAZ, não é seu intuito definir e fixar formas, ou padrões de como seria uma destas zonas. O máximo que faz é circundar o assunto, lançando algumas explicações gerais. O que chamamos de TAZ desenvolve-se como um levante, algo excepcional na história , que, apesar de muitos classificarem como uma revolução que fracassou, eleva o grau de intensidade da vida e da consciência. A espetacular "Revolução!"- cujos exemplos não passaram de pura simulação, acabando com uma opressão e estabelecendo outra- são desmistificadas no livro, incitando a formação de um novo tipo de revolucionar cotidiano e independente. Visar à liberdade de todos serviu, por muitas vezes, como máscara de interesses particulares e opressores. Do que adianta acreditar que só há liberdade quando todos forem livres? Libertar-se, revolucionar pode partir de um indivíduo, ou de um bando. E é isso que poderiamos colocar como um princípio e possível objetivo da TAZ: liberdade independente e autônoma

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

"TAZ"-dicionario de bolso - antes de fazer parte do grupo adquira juntamente com a camiseta

adamastor "bantu" : queria ser negro mas nao sabe como deixar sua pele pele mulata mais escura.

amoniaco : a parte que acha que fede mas pensa que isso é movimento critico.

angus-belmont: veio de nao sei onde, faz nao sei o que, e escreve pra ninguem; acha que filme é historia em quadrinhos e vice-versa.

bruno: ver "japones"

camila: queria saber chorar mais nao consegue espetar o proprio olho.

carbono : a parte que acha que é inevitavel pra sua propria vida.

cerveja: boa desculpa pra quem nao sabe beber, mas que ficar louco e desperdiçar dinheiro.

crisalida: parte lirica do que literalmente implicitamente quer quase dizer vadia.

C 12: o lirismo comedido do que acha que lirico é ser um rosto bonitinho.

diego: pensa que pode ser tudo so porque nao tem nada mais pra fazer.

dipersona : um bando de garotos nao mimados que nao ganharam o presente de natal que pediram - uma namorada loira com peitos grandes.

eric: o cara que se perde mesmo quando compra uma bussola - esqueceu ela em algum lugar do passado.

erica: olhos azuis que queriam ser verdes, mas aeh se contenta se eles ficarem vermelhos.

fernando: queria ser sociologo quando percebeu que nao seria comunista, mas decidiu entrar pro partido "social-individualista".

geyse : a garotinha amada que as amigas figem que odeiam - mas a verdade é que odeiam mesmo.

james : a parte amada do que eles odeiam - o calado do quieto.

japones : ver bruno; ou seja ,um daqueles termos no dicionario que nao consegue ser nem ambiguo.

joao "dipersona" : um perfil sem foto que se acha fotogenico em cameras kodak.

jones: a parte odiada do que eles odeiam - o quieto do nao- calado.

jules : esse ai sumiu, mas dava o seu ar quando ja nao tinha mais graça.

k.o: o garoto subversivo do suburbio rico; gosta de fumar por causa da clarisse linspector - ou por causa da raquel de queiroz?

latim: usa-se quando o frances fica banal, o ingles nao sai, e o espanhol ta enferrujado.

lucas : queria ser corno mas nao consegue, sabe que precisa de uma menina pra isso.

maconha : começa assim

maconha 2/1: quando se quer chamar um pouco mais de atençao.

maconha 3/1:quando atençao nao basta e precisa ter coragem pra tirar a roupa.

maconha 7/1: so idiotas acham que existe; necessario quando se quer enfiar uma tramontina no cara e catar a mina dele.

manuela : a parte da borboleta que ainda é um lagarto mas se olha no espelho pra ver se nasceu asas.

marcela: animus; pegou a senha e nao teve que esperar a sua vez.

natalia:a parte da sereia que acha que pensa com a cauda.

parede: um bom lugar pra bater a cabeça - ou pintar com o cerebro.

pedra : perde pro papel; ganha da tesoura; vem depois do pó e da maconha.

pernilongo: o melhor amigo do homem; o inimigo mortal do homem.

peu : nome poetico de pó.

pint-off : pra quem quer baforar mas nao quer ser tirado de muleke; uma brisa que ainda vai passar.

phonics: uma boa desculpa pra nao se falar o que pensa.

pornofonica: entre "diario de um detento" e o "doce veneno do escorpião"; revolta e sexo - a mania da novela nacional; tem conto de fadas tambem.

rafaela : aquela que se acha a unica legitima de um "bar" de adotados.

silene : deu! nao gostou e desde entao acha que aprendeu a escrever.

soi phili : parte lirica advinda dos seguintes versos : ...; é nao tem uma boa explicaçao pra esse termo ai; alguem paga uma pizza?

soliloquio camiphili : falta de tempo pra escrever; sobra do que fazer.

tarsio: banqueiro que nao gosta de puteiro, entao prefere ser punheteiro.

teoria do "jogo" : boa desculpa pra nao levar fora de mina; boa desculpa pra levar fora de mina.

toussaint l'overture: falta tempo, sobra espaço.(se salvou nessa hein!)

thetis: parte da mulher que acha que pensa com a cabeça.

tr : parte lirica da mulher que queria ser homem so para se apaixonar por si mesmo, conseguiu, mas levou um fora em 24 horas.

traiçao: boa desculpa pra levar fora de mina; boa desculpa pra achar que levou fora de mina.

um "dipersona" : o que finge que "um" faz diferença; o que acha que se ja nao bastasse um "dipersona" ainda quer um "dipersona".

vinicius : queria ser "de moraes";queria ser ko; queria ser tr; acabou sendo nao mais que "di morais"

vinicius de moraes: velho tarado que pra enfiar o dedo na buceta das minas fazia ate musica e poesia de amor; velho tarado que nao tinha força pra bater uma punheta; velho tarado que se excitava com violao.

Z : queria ser a ultima letra do alfabeto mas o lembram do w; fez acordo pra colocar "y" na frente; paga propina pra quem lembrar que o alfabeto so tem 23 letras.



movimentaçao critica na nossa"TAZ". o confortavel que se torna desconfortavel so pra se sentir mais confortavel.

O Velho

Composição: Chico Buarque

O velho sem conselhos
De joelhos
De partida
Carrega com certeza
Todo o peso
Da sua vida
Então eu lhe pergunto pelo amor
A vida inteira, diz que se guardou
Do carnaval, da brincadeira
Que ele não brincou
Me diga agora
O que é que eu digo ao povo
O que é que tem de novo
Pra deixar
Nada
Só a caminhada
Longa, pra nenhum lugar

O velho de partida
Deixa a vida
Sem saudades
Sem dívida, sem saldo
Sem rival
Ou amizade
Então eu lhe pergunto pelo amor
Ele me diz que sempre se escondeu
Não se comprometeu
Nem nunca se entregou
E diga agora
O que é que eu digo ao povo
O que é que tem de novo
Pra deixar
Nada
E eu vejo a triste estrada
Onde um dia eu vou parar

O velho vai-se agora
Vai-se embora
Sem bagagem
Não sabe pra que veio
Foi passeio
Foi passagem
Então eu lhe pergunto pelo amor
Ele me é franco
Mostra um verso manco
De um caderno em branco
Que já fechou
Me diga agora
O que é que eu digo ao povo
O que é que tem de novo
Pra deixar
Não
Foi tudo escrito em vão
E eu lhe peço perdão
Mas não vou lastimar

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

"meus pensamentos devem indicar onde estou: mas nao devem revelar para onde vou.
gosto do desconhecimento do futuro e nao quero morrer de impaciencia enm provar por antecipaçao as coisas prometidas."


Nietzsche

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

a dá

cheiro pó, fumaça, poeira.
visao de gente, que nada sente.
sensaçao fria, deprimente.
som de vozes, e musica "roqueira".

ha dá.
e essa parede gelada.
essa musica irritada.

ha dá.
e essa libido descontrolada.
e essa mao gozada.

e esse cheiro?
é seu o cheiro.
cheiro de "buceta" dada.


mllga

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

crisalida disforme

esta vista fosca,
meus olhos inchados.

neste dia,
sob o descanso da noite.
durante este sono diurno,
um momento tacto
e sonhos taciturnos.


o perigo inebriante da fumaça,
a imagem da cegueira que transpassa
(pensamentos de jogo, que julgo trapaça)

e aquele sonho de visao noturna?
duas fontes...
que tem quase de virgens!

pois bem que nao perguntamo-nos.
resistiria em dizer "nao",
e seria humilhante falar-lhes "sim".



vinicius.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

ao querido mano pinga



qo nosso querido mano dieguinho:

que sejas ... que vá....

e que corte o cabelo...kkk

se ta tipo mano don juan

sábado, 17 de novembro de 2007

Cicatriz do amor

vo aproveita a ausência da ala radical pra faze uma abertura econômica:

Cicatriz do amor

Naquele momento de amor
Me entreguei e fui feliz
A saudade ficou em meu peito
me deixando cicatriz
E hoje sem você por perto
Me cencontro nesta depressão
Meu corpo precisa de afeto
Preciso sentir emoção
Eu vou chorar
Choro, choro eu sinto que não acabou
O tempo passa e eu não te esqueço
Eu te amo meu amor
Meu amor!!!
Choro, choro eu sinto que não acabou
O tempo passa e eu não te esqueço
Eu te amo meu amor
Meu amor!!!

(Gabu/Marinheiro)

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

anti-evasao

ANTI-EVASÃO

Pedirei
Suplicarei
Chorarei

Não vou para Pasárgada

Atirar-me-ei ao chão
e prenderei nas mãos convulsas
ervas e pedras de sangue

Não vou para Pasárgada

Gritarei
Berrarei
Matarei

Não vou para Pasárgada.

ovidio martins(poeta caboverdiano)

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Menestrel

http://www.youtube.com/watch?v=8eWzFlxjCpI&eurl=http://www.orkut.com/FavoriteVideos.aspx?uid=714692347332028869

Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se. E que companhia nem sempre significa segurança. Começa a aprender que beijos não são contratos e que presentes não são promessas.
Começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.
Aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.
Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo.
E aprende que, não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobre que se leva anos para construir confiança e apenas segundos para destruí-la...
E que você pode fazer coisas em um instante das quais se arrependerá pelo resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias.
E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida.
E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.
Aprende que não temos de mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam...
Percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos. Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa... por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas; pode ser a última vez que as vejamos. Aprende que as circunstâncias e os ambientes têm influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser.
Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.
Aprende que não importa onde já chegou, mas para onde está indo... mas, se você não sabe para onde está indo, qualquer caminho serve.
Aprende que, ou você controla seus atos, ou eles o controlarão... e que ser flexível não significa ser fraco, ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem, pelo menos, dois lados. Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências. Aprende que paciência requer muita prática.
Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se. Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou. Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.
Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens...
Poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.
Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.
Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém...
Algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo.
Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado.
Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar.
Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, em vez de esperar que alguém lhe traga flores.
E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida! Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar se não fosse o medo de tentar.
(Shakespeare)

Dona Almerinda

setembro. a presença de D. Almerinda em casa tinha cheirinho de férias, mesmo que fora de época. era nesse mês que ela costumava vir de Brasília a fim de esquecer os problemas dos filhos mais irresponsáveis. a velha era assim, quase uma Finivest. os filhotes, todos marmanjos. mas sabe como é, né? a vida é dura, mas mamãe sempre está ali, firme e forte.domingo, Faustão e sofá. mais um desesperado tentava ganhar a vida inteira em 30 segundos. coitado mesmo era o poodle que ele adestrava. rolava, sentava, dançava. faltava só arrumar a casa também. aquele esforço todo pra comer aquela ração porca na hora do rango. o tempo acaba e o candidato, no pouco espaço que tem para falar, - afinal, o apresentador é Fausto Silva - humildemente, diz que "nóis tenta acertar, né? nem é sempre que nóis consegue".- ih! esse é um daqueles!- um daqueles o que, vó?- um daqueles paulistas burros, sabe?- não, não sei.- ah, fi, paulista é tudo burro. inda mais esses aí, metido, sabe como é? só sabe olhar pro próprio imbigo. o cachorro até que é esperto. deve ser porque não tem imbigo.- imbigo?- é, parece que tão com rei na barriga. nunca vi raça mais nojenta!- paulista ou poodle?- paulista! pior que paulista, só baiano. pior ainda é o baiano que acha que vai ganhar a vida em São Paulo. bandibesta.- nossa, quando preconceito, vovó!- sua avó é preconceituosa mermo, posso fazer o quê?- ok. odeio cariocas.e de repente, um silêncio nervoso tomou conta do resto da programação global. aquele pequeno comentário sobre os cariocas soou como uma ofensa. a velha ficou com raiva, mas refletiu. a chegada do comercial fez com que nos olhássemos. frio. tudo muito sério. ela arrisca:- é, fi. você tem razão. a gente, humano, só vê o próprio imbigo, né?e até hoje eu fico me perguntando se cachorros têm imbigo.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Manifesto da Antropofagia Periférica

Sérgio Vaz

A Periferia nos une pelo amor, pela dor e pela cor. Dos becos e vielas há de vir a voz que grita contra o silêncio que nos pune. Eis que surge das ladeiras um povo lindo e inteligente galopando contra o passado. A favor de um futuro limpo, para todos os brasileiros.

A favor de um subúrbio que clama por arte e cultura, e universidade para a diversidade. Agogôs e tamborins acompanhados de violinos, só depois da aula. Contra a arte patrocinada pelos que corrompem a liberdade de opção. Contra a arte fabricada para destruir o senso crítico, a emoção e a sensibilidade que nasce da múltipla escolha.

A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.

A favor do batuque da cozinha que nasce na cozinha e sinhá não quer. Da poesia periférica que brota na porta do bar.

Do teatro que não vem do "ter ou não ter...". Do cinema real que transmite ilusão.

Das Artes Plásticas, que, de concreto, querem substituir os barracos de madeira.

Da Dança que desafoga no lago dos cisnes. Da Música que não embala os adormecidos.

Da Literatura das ruas despertando nas calçadas.

A Periferia unida, no centro de todas as coisas.

Contra o racismo, a intolerância e as injustiças sociais das quais a arte vigente não fala.

Contra o artista surdo-mudo e a letra que não fala.

É preciso sugar da arte um novo tipo de artista: o artista-cidadão. Aquele que na sua arte não revoluciona o mundo, mas também não compactua com a mediocridade que imbeciliza um povo desprovido de oportunidades. Um artista a serviço da comunidade, do país. Que, armado da verdade, por si só exercita a revolução.

Contra a arte domingueira que defeca em nossa sala e nos hipnotiza no colo da poltrona.

Contra a barbárie que é a falta de bibliotecas, cinemas, museus, teatros e espaços para o acesso à produção cultural.

Contra reis e rainhas do castelo globalizado e quadril avantajado.

Contra o capital que ignora o interior a favor do exterior. Miami pra eles? "Me ame pra nós!".

Contra os carrascos e as vítimas do sistema.

Contra os covardes e eruditos de aquário.

Contra o artista serviçal escravo da vaidade.

Contra os vampiros das verbas públicas e arte privada.

A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.

Por uma Periferia que nos une pelo amor, pela dor e pela cor.

É TUDO NOSSO!



da semana de arte moderna da periferia

terça-feira, 30 de outubro de 2007

65

Copo vazio,
trinta e cinco centavos contados:duas vezes.
Ah,essa vida...
os carros soltando fumaça na Raposo
cachorros abandonados esperando morrer
só uma espuminha sobra desse moedor no fundo do copo:
melhor bebê-la devagarinho ,meu caro.
Uma mulher linda ,pézinhos bonitos
ela não gosta de falar ,me dá tesão
mas nem posso pagar cerveja ;sei que não vira .
Podem rir e criar intrigas ,vocês venceram por ora
jogar os dados nunca dá 7 duas vezes seguidas.
fecharam os bingos
nem jogo de bolinha no centro em caixotes.
Sessenta e cinco centavos pra uma latinha...

Belmont

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

diz se do homem

Diz-se do homem que muito dá:
"Queres receber em igual valor".
Dê entao o menos,
E receba o nada mais.
Orgulho?
Não!
Amor proprio
E com paixão.
Isto que chame autopreservaçao.


KO

sim

Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.


ricardo reis

breve o dia

Breve o dia, breve o ano, breve tudo.

Não tarda nada sermos.

Isto, pensado, me de a mente absorve

Todos mais pensamentos.

O mesmo breve ser da mágoa pesa-me,

Que, inda que mágoa, é vida


ricardo reis

uma apos uma

Uma após uma as ondas apressadas
Enrolam o seu verde movimento
E chiam a alva 'spuma
No moreno das praias.
Uma após uma as nuvens vagarosas
Rasgam o seu redondo movimento
E o sol aquece o 'spaço
Do ar entre as nuvens 'scassas.
Indiferente a mim e eu a ela,
A natureza deste dia calmo
Furta pouco ao meu senso
De se esvair o tempo.
Só uma vaga pena inconseqüente
Pára um momento à porta da minha alma
E após fitar-me um pouco
Passa, a sorrir de nada


ricardo reis

domingo, 21 de outubro de 2007

contos inacabados parteVII

Acordo... Do lado apenas um copo vazio, meu velho maço de cigarros e um olhar distante, Apresso-me vestir-me ainda é aquilo que me conduz ai perdão. Viro-me e observo. O velho quarto pegadas silenciosas e um turbilhão de pensamentos...Imagens...
As luzes ainda piscam lá fora, os letreiros ainda acendem e apagam num ritmo frenético, é madrugada.
Um corpo estendido, ainda revela desejo e paixão... exala ainda o doce frescor do suor e os olhares entrelaçados em algum ponto distante que nos separa do real. Ali, de pé, deixo escapar um sorriso vazio, um olhar cativo e intenso. Sou o que quero mas não o que devo, penso...
Despeço-me, não será a última nem a única.
Ele me olha e fecha os olhos como se dissesse um até logo.
Será esta, aquela, aquela.
Abro a porta, os carros passam.
Preciso pegar o trem

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

contos inacabados parte VIII

Essa noite sonhei com ele, foi estranho...pois não dormia. Um silencio interminável existia entre nós, nada declarado, nada antes mesmo combinado. Apenas nos olhávamos curiosos por nós mesmo, cada movimento...cada respiração...em compassos. Ele levantou-se e estendeu-me seus longos braços e sorriu. Um sorriso por mim conhecido e sem mistérios. Apenas um sorriso. Deparei-me diante de mim mesma naquele interminável sorriso. Passos mudos e silenciosos me restaram. Caminhamos por entre ruas antes conhecidas e por esquinas tão semelhantes a outras esquinas. Sombras e ausência delas. Um ao lado do outro não sabíamos bem ao certo pra onde iríamos, apenas caminhávamos. Ofereceu-me um cigarro e com um sorriso novamente acendeu o seu e me ofereceu fósforos meio que encharcados, úmidos de suas mãos. Era um silencio barulhento. Passos inconstante e agora um cigarro sem gosto. Esgueiramos-nos de nossos temores e de todos os olhares que sempre nos acompanharam.
Achamos um banco, um banco desses qualquer de praça. Sentamos e ele me deu algumas flores mortas, as crianças corriam ao longe e podíamos ouvir seus sorrisos. Não haviam motivos, nem distrações pra sentarmos ali. Apenas eu e ele, ele e eu. Com seus braços envolta de mim, olhávamos as estrelas e no silencio nos comunicávamos por sinais e emblemas que passavam. Em meus pensamentos passavam inúmeras estrelas cadentes recheadas de conflitos e perguntas sem sentido. Por um instante não me senti só. Minhas pernas se encolhiam e sentia frio, um frio insuportável. Ele ao perceber que encolhia-me naquele banco apertou-me entre os braços e proferiu uma única palavra: “VEM...” e nada mais. O frio dentro de mim se encolheu naquele mesmo instante e passei a ver seus olhos. Como se estivesse encantada, seduzida me ergui e com o corpo dele colado ao meu dançamos ali mesmo. Me senti livre, mas meus pés ainda assim estavam presos, minhas asas não se libertaram e não podia voar. Enquanto dançávamos pairávamos no ar e senti que as correntes me puxavam pra baixo. Dor, muita dor e a necessidade de fugir daquelas amarras me traziam angústia. Fiz força, o sangue escorria pelos meus tornozelos... me soltei a custa de muita dor, dor. Voamos e me encontrei. Eu e ele éramos um só. E sabíamos pra onde ir. Sorrimos novamente. Mas agora sem receios. Encontrei-me, pensei. Ele era eu, não sei como, mas era. Minha transfiguração, minha metamorfose perfeita. Sons e sorrisos passei a ouvir e os passos fizeram barulho. O horizonte era o limite. Sorrindo o beijei e sentir beijar a mim mesma. Chorei convulsivamente, mas diferente das outras vezes não me senti triste. Meus pensamentos fluíram e minha mente foi além...
Um trovão e chuva. Abri os olhos assustados.
Ainda estava no banco, sozinha.

Amor, Verbo Intransitivo


ao amigo dieguinho:

Se os olhares se cruzarem e, neste momento houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta:

Esta pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia que nasceu.

Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa

Se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça:

Deus te mandou um presente divino - o amor.

Se um dia tiverem que pedir perdão um ao outro por algum motivo e em trocarem um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos de modo que estes gestos valham mais do que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um para o outro.

Se você conseguir em pensamento, sentir o cheiro da pessoa, como se ela estivesse ali ao seu lado.

Se por algum motivo você estiver triste, porque a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura,

Que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em todos os momentos de sua vida

Se você achar a pessoa maravilhosamente linda, mesmo ela estando de pijama velho, chinelos de dedo e cabelos emaranhados,

Se você não conseguir trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que está marcado para a noite.

Se você não consegue imaginar, de maneira nenhuma um futuro sem a presença dessa pessoa ao seu lado.

É o amor que chegou na sua vida. É uma dádiva.

Se você tiver a certeza que vai vê-la envelhecer e, mesmo assim tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela,

Se você preferir morrer, antes de vê-la partindo

É o amor que chegou na sua vida!

Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego de modo que não perceba a melhor coisa da vida:

Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes durante a vida, mas poucas amam ou encontram um amor verdadeiro.

Ou, às vezes encontram, mas por não prestarem atenção nos sinais, deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente.

Preste atenção nos sinais e não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O amor.

Drummond

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

posso

no posso...
podemos de tudo...
chorar sem sofrer,
e sofrer sem amar.
amar?amar?amar?
amar é do posso!
eu posso
eu posso,
no posso...
podemos de tudo...
amar sem sofrer...
viver sem viver...
morrer pra viver...
viver pra morrer...
no posso...
no posso podemos de tudo.
no posso...
podemos matar.
no posso...
podemos chorar.
mas no posso...
nada adianta.
mas no posso...
nada avança.
no posso...
tudo se atrasa.
no posso...
no posso...
no posso...
é...
no posso...
que é o poço.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

A Execução

Aqui me consolo

Choro pelas lágrimas que não poderei mais ceder
Contemplo um futuro vazio
Vazio como o sangue que percorre minhas veias

Rezo pela existência de uma vida na não vida
Rogo pela existência de um Deus
E a dúvida me corrói, não há perspectiva

Busco em atos a imortalidade
Mas, mesmo que meu nome sobreviva,
Meu ser estará para sempre perdido no infinito

Na eternidade

Busco a redimissão, uma segunda chance
Imagino um céu
A esperança.
Mas, apenas ouço estas palavras
Que ardem na língua de quem as pronuncia:

Aqui jaz um morto
Que apesar de ter sido esquecido
Sempre terá existido.



Mais lágrimas







------ Sândalo

Uma vida

Sono
Pranto
Sono
Pranto
Sono
Acorda
Chão
Corda
Céu
Chão
Corda
Céu
Chão
Céu chão céu chão
Encanto
Livro
Beijo
tv
msn
Mundo?
Carro
Dinheiro
Arroz
Água
Luz
Telefone
Filho
Sono
Pranto
Sono




--- dona florinda

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

QUE...

Que a mãe terra cuide de nós e nós dela
Que as paixões sejam intensas e inesquecíveis,
Que os amigos sejam muitos e verdadeiros,
Que os momentos felizes sejam bem vividos e que sempre estejamos bem acompanhados,
Que os beijos sejam longos e cheios de desejo
Que o vinho seja tão bom quanto o da ultima vez que bebemos
Que a música seja mais alegre do que a que ouvimos ontem
Que os erros aconteçam e que as lições sejam ainda maiores
Que sempre existam fogueiras e amigos ao redor
Que os amores sejam eternos
Que as tardes de Sol sejam quentes
Que nas madrugadas chuvosas nossos pés estejam sempre aquecidos
Que o pôr-do-sol seja lindo
Que o fim de tarde seja cada vez mais nostálgico
Que as crianças sorriam mais
Que os velhos se amem mais
Que os adultos se preocupem menos
Que a vida seja bela
Que este poema tenha sentido
Que possamos amar mais
Que sejamos todos mais loucos
Que os sorrisos sejam mais altos
Que os gritos sejam mais fortes
Que o banho de chuva seja inesperado
Que o reencontro seja tão belo quando o encontro
Que a diversão não tenha fim
Que a música não pare
Que as coisas mais simples desta vida possam nos fazer felizes.
Que o fim seja só mais um começo

chapolin

Pagador de promessas

não teve visita no parto.
Não teve quarto, não teve berço.
Não teve pai que partiu cedo.
Não teve brinquedo.
Não teve tempo de jogar bola.
Sem saber ler e escrever era uma vítima fácil.
A carta na manga de mais um deputado.
Quantas vezes passou fome?
Anêmico, perambulando pelo centro da cidade.
Quantas noites com dor de dente e resfriado, nunca lembrado.
Ele teve a carroça como cruz e a honestidade como pecado.
Andarilho em busca de sonhos contrariando a estatistica.
Pela profecia da vizinha não passaria dos trinta.
Cuidado, revoltado, agora ele anda armado.
Está sempre com um volume debaixo do braço.
Não é revolver, nem é a bíblia.
É Dicionário.

chapolin

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Na floresta dos sonhos, dia a dia,
Se interna meu dorido pensamento.
Nas regiões do vago esquecimento
Me conduz, passo a passo, a phantasia.

Atravesso, no escuro, a nevoa fria
D'um mundo estranho, que povôa o vento,
E meu queixoso e incerto sentimento
Só das visões da noite se confia.

Que mysticos desejos me enlouquecem?
Do Nirvâna os abysmos apparecem,
A meus olhos, na muda immensidade!

N'esta viagem pelo ermo espaço,S
ó busco o teu encontro e o teu abraço,
Morte! irman do Amor e da Verdade!

antero de quental
aspiraçao

"Meus dias vão correndo vagarosos
Sem prazer e sem dor, e até parece
Que o foco interior já desfalece
E vacila com raios duvidosos.

É bela a vida e os anos são formosos,
E nunca ao peito amante o amor falece...
Mas, se a beleza aqui nos aparece,
Logo outra lembra de mais puros gosos.

Minh'alma, ó Deus! a outros céus aspira:
Se um momento a prendeu mortal beleza,
É pela eterna pátria que suspira...

Porém do presentir dá-me a certeza.
Dá-ma! e sereno, embora a dor me fira,
Eu sempre bendirei esta tristeza!"

antero de quental
Soneto Italiano

"Frescuras das sereias e do orvalho,
Graça dos brancos pes dos pequeninos,
Voz das anhãs cantando pelos sinos,
Rosa mais alta no mais alto galho:

De quem me valerei, se não me valho
De ti, que tens a chave dos destinos
Em que arderam meus sonhos cristalinos
Feitos cinza que em pranto ao vento espalho?

Também te vi chorar... Também sofreste
A dor de ver secarem pela estrada
As fontes da esperança... E não cedeste!

Antes, pobre, despida e trespassada,
Soubeste dar à vida, em que morreste,
Tudo - à vida, que nunca te deu nada!"

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

"Todo dia um ninguém josé acorda já deitado
Todo dia, ainda de pé, o zé dorme acordado
Todo dia o dia não quer raiar o sol do dia
Toda trilha é andada com fé de quem crê no ditado
De que o dia insiste em nascer
Mas o dia insiste em nascer pra ver deitar o novo
Toda rosa é rosa porque assim ela é chamada
Toda bossa é nova e você não liga se é usada
Todo o carnaval tem seu fim
Todo o carnaval tem seu fim
É o fim
É o fim
Deixa eu brincar de ser feliz, deixa eu pintar o meu
nariz !
Deixa eu brincar de ser feliz, deixa eu pintar o meu
nariz
Toda banda tem um tarol, quem sabe eu não toco?
Todo samba tem um refrão pra levantar o bloco
Toda escolha é feita por quem acorda já deitado
Toda folha elege um alguém que mora logo ao lado
E pinta o estandarte de azul
E põe suas estrelas no azul
Pra que mudar?
Deixa eu brincar de ser feliz, deixa eu pintar o meu
nariz !
Deixa eu brincar de ser feliz, deixa eu pintar o meu
nariz !
Deixa eu brincar de ser feliz, deixa eu pintar o meu
nariz !
Deixa eu brincar de ser feliz, deixa eu pintar o meu
nariz !
Deixa eu brincar de ser feliz, deixa eu pintar."
"Quis nunca te perder
tanto que demais
via em tudo céu
fiz de tudo cais
dei-te pra ancorar
doces deletérios
e quis ter os pés no chão
tanto eu abri mão
que hoje eu entendi
sonho não se dá
é botão de flor
o sabor de fel
é de cortar
eu sei é um doce te amar
o amargo é querer-te pra mim
do que eu preciso é lembrar, me ver
antes de te ter e de ser teu, muito bem
quis nunca te ganhar
tanto que forjei
asas nos teus pés
ondas pra levar
deixo desvendar
todos os mistérios
sei tanto te soltei
que você me quis
em todo o lugar
lia em cada olhar
quanta intenção
eu vivia preso
eu sei é um doce te amar
o amargo é querer-te pra mim
do que eu preciso é lembrar, me ver
antes de te ter e de ser teu
o que eu queria o que eu fazia o que mais?
e alguma coisa a gente tem que amar
mas o que não sei mais
os dias que eu me vejo só
são dias que eu me encontro mais
e mesmo assim eu sei também
existe alguém pra me libertar"

Amor

Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depositou o volume no colo e o bonde começou a andar. Recostou-se então no banco procurando conforto, num suspiro de meia satisfação.

Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores. Crescia sua rápida conversa com o cobrador de luz, crescia a água enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com comidas, o marido chegando com os jornais e sorrindo de fome, o canto importuno das empregadas do edifício. Ana dava a tudo, tranqüilamente, sua mão pequena e forte, sua corrente de vida.

Certa hora da tarde era mais perigosa. Certa hora da tarde as árvores que plantara riam dela. Quando nada mais precisava de sua força, inquietava-se. No entanto sentia-se mais sólida do que nunca, seu corpo engrossara um pouco e era de se ver o modo como cortava blusas para os meninos, a grande tesoura dando estalidos na fazenda. Todo o seu desejo vagamente artístico encaminhara-se há muito no sentido de tornar os dias realizados e belos; com o tempo, seu gosto pelo decorativo se desenvolvera e suplantara a íntima desordem. Parecia ter descoberto que tudo era passível de aperfeiçoamento, a cada coisa se emprestaria uma aparência harmoniosa; a vida podia ser feita pela mão do homem.

No fundo, Ana sempre tivera necessidade de sentir a raiz firme das coisas. E isso um lar perplexamente lhe dera. Por caminhos tortos, viera a cair num destino de mulher, com a surpresa de nele caber como se o tivesse inventado. O homem com quem casara era um homem verdadeiro, os filhos que tivera eram filhos verdadeiros. Sua juventude anterior parecia-lhe estranha como uma doença de vida. Dela havia aos poucos emergido para descobrir que também sem a felicidade se vivia: abolindo-a, encontrara uma legião de pessoas, antes invisíveis, que viviam como quem trabalha — com persistência, continuidade, alegria. O que sucedera a Ana antes de ter o lar estava para sempre fora de seu alcance: uma exaltação perturbada que tantas vezes se confundira com felicidade insuportável. Criara em troca algo enfim compreensível, uma vida de adulto. Assim ela o quisera e o escolhera.

Sua precaução reduzia-se a tomar cuidado na hora perigosa da tarde, quando a casa estava vazia sem precisar mais dela, o sol alto, cada membro da família distribuído nas suas funções. Olhando os móveis limpos, seu coração se apertava um pouco em espanto. Mas na sua vida não havia lugar para que sentisse ternura pelo seu espanto — ela o abafava com a mesma habilidade que as lides em casa lhe haviam transmitido. Saía então para fazer compras ou levar objetos para consertar, cuidando do lar e da família à revelia deles. Quando voltasse era o fim da tarde e as crianças vindas do colégio exigiam-na. Assim chegaria a noite, com sua tranqüila vibração. De manhã acordaria aureolada pelos calmos deveres. Encontrava os móveis de novo empoeirados e sujos, como se voltassem arrependidos. Quanto a ela mesma, fazia obscuramente parte das raízes negras e suaves do mundo. E alimentava anonimamente a vida. Estava bom assim. Assim ela o quisera e escolhera.

O bonde vacilava nos trilhos, entrava em ruas largas. Logo um vento mais úmido soprava anunciando, mais que o fim da tarde, o fim da hora instável. Ana respirou profundamente e uma grande aceitação deu a seu rosto um ar de mulher.

O bonde se arrastava, em seguida estacava. Até Humaitá tinha tempo de descansar. Foi então que olhou para o homem parado no ponto.

A diferença entre ele e os outros é que ele estava realmente parado. De pé, suas mãos se mantinham avançadas. Era um cego.

O que havia mais que fizesse Ana se aprumar em desconfiança? Alguma coisa intranqüila estava sucedendo. Então ela viu: o cego mascava chicles... Um homem cego mascava chicles.

Ana ainda teve tempo de pensar por um segundo que os irmãos viriam jantar — o coração batia-lhe violento, espaçado. Inclinada, olhava o cego profundamente, como se olha o que não nos vê. Ele mascava goma na escuridão. Sem sofrimento, com os olhos abertos. O movimento da mastigação fazia-o parecer sorrir e de repente deixar de sorrir, sorrir e deixar de sorrir — como se ele a tivesse insultado, Ana olhava-o. E quem a visse teria a impressão de uma mulher com ódio. Mas continuava a olhá-lo, cada vez mais inclinada — o bonde deu uma arrancada súbita jogando-a desprevenida para trás, o pesado saco de tricô despencou-se do colo, ruiu no chão — Ana deu um grito, o condutor deu ordem de parada antes de saber do que se tratava — o bonde estacou, os passageiros olharam assustados.

Incapaz de se mover para apanhar suas compras, Ana se aprumava pálida. Uma expressão de rosto, há muito não usada, ressurgia-lhe com dificuldade, ainda incerta, incompreensível. O moleque dos jornais ria entregando-lhe o volume. Mas os ovos se haviam quebrado no embrulho de jornal. Gemas amarelas e viscosas pingavam entre os fios da rede. O cego interrompera a mastigação e avançava as mãos inseguras, tentando inutilmente pegar o que acontecia. O embrulho dos ovos foi jogado fora da rede e, entre os sorrisos dos passageiros e o sinal do condutor, o bonde deu a nova arrancada de partida.

Poucos instantes depois já não a olhavam mais. O bonde se sacudia nos trilhos e o cego mascando goma ficara atrás para sempre. Mas o mal estava feito.

A rede de tricô era áspera entre os dedos, não íntima como quando a tricotara. A rede perdera o sentido e estar num bonde era um fio partido; não sabia o que fazer com as compras no colo. E como uma estranha música, o mundo recomeçava ao redor. O mal estava feito. Por quê? Teria esquecido de que havia cegos? A piedade a sufocava, Ana respirava pesadamente. Mesmo as coisas que existiam antes do acontecimento estavam agora de sobreaviso, tinham um ar mais hostil, perecível... O mundo se tornara de novo um mal-estar. Vários anos ruíam, as gemas amarelas escorriam. Expulsa de seus próprios dias, parecia-lhe que as pessoas da rua eram periclitantes, que se mantinham por um mínimo equilíbrio à tona da escuridão — e por um momento a falta de sentido deixava-as tão livres que elas não sabiam para onde ir. Perceber uma ausência de lei foi tão súbito que Ana se agarrou ao banco da frente, como se pudesse cair do bonde, como se as coisas pudessem ser revertidas com a mesma calma com que não o eram.

O que chamava de crise viera afinal. E sua marca era o prazer intenso com que olhava agora as coisas, sofrendo espantada. O calor se tornara mais abafado, tudo tinha ganho uma força e vozes mais altas. Na Rua Voluntários da Pátria parecia prestes a rebentar uma revolução, as grades dos esgotos estavam secas, o ar empoeirado. Um cego mascando chicles mergulhara o mundo em escura sofreguidão. Em cada pessoa forte havia a ausência de piedade pelo cego e as pessoas assustavam-na com o vigor que possuíam. Junto dela havia uma senhora de azul, com um rosto. Desviou o olhar, depressa. Na calçada, uma mulher deu um empurrão no filho! Dois namorados entrelaçavam os dedos sorrindo... E o cego? Ana caíra numa bondade extremamente dolorosa.

Ela apaziguara tão bem a vida, cuidara tanto para que esta não explodisse. Mantinha tudo em serena compreensão, separava uma pessoa das outras, as roupas eram claramente feitas para serem usadas e podia-se escolher pelo jornal o filme da noite - tudo feito de modo a que um dia se seguisse ao outro. E um cego mascando goma despedaçava tudo isso. E através da piedade aparecia a Ana uma vida cheia de náusea doce, até a boca.

Só então percebeu que há muito passara do seu ponto de descida. Na fraqueza em que estava, tudo a atingia com um susto; desceu do bonde com pernas débeis, olhou em torno de si, segurando a rede suja de ovo. Por um momento não conseguia orientar-se. Parecia ter saltado no meio da noite.

Era uma rua comprida, com muros altos, amarelos. Seu coração batia de medo, ela procurava inutilmente reconhecer os arredores, enquanto a vida que descobrira continuava a pulsar e um vento mais morno e mais misterioso rodeava-lhe o rosto. Ficou parada olhando o muro. Enfim pôde localizar-se. Andando um pouco mais ao longo de uma sebe, atravessou os portões do Jardim Botânico.

Andava pesadamente pela alameda central, entre os coqueiros. Não havia ninguém no Jardim. Depositou os embrulhos na terra, sentou-se no banco de um atalho e ali ficou muito tempo.

A vastidão parecia acalmá-la, o silêncio regulava sua respiração. Ela adormecia dentro de si.

De longe via a aléia onde a tarde era clara e redonda. Mas a penumbra dos ramos cobria o atalho.

Ao seu redor havia ruídos serenos, cheiro de árvores, pequenas surpresas entre os cipós. Todo o Jardim triturado pelos instantes já mais apressados da tarde. De onde vinha o meio sonho pelo qual estava rodeada? Como por um zunido de abelhas e aves. Tudo era estranho, suave demais, grande demais.

Um movimento leve e íntimo a sobressaltou — voltou-se rápida. Nada parecia se ter movido. Mas na aléia central estava imóvel um poderoso gato. Seus pêlos eram macios. Em novo andar silencioso, desapareceu.

Inquieta, olhou em torno. Os ramos se balançavam, as sombras vacilavam no chão. Um pardal ciscava na terra. E de repente, com mal-estar, pareceu-lhe ter caído numa emboscada. Fazia-se no Jardim um trabalho secreto do qual ela começava a se aperceber.

Nas árvores as frutas eram pretas, doces como mel. Havia no chão caroços secos cheios de circunvoluções, como pequenos cérebros apodrecidos. O banco estava manchado de sucos roxos. Com suavidade intensa rumorejavam as águas. No tronco da árvore pregavam-se as luxuosas patas de uma aranha. A crueza do mundo era tranqüila. O assassinato era profundo. E a morte não era o que pensávamos.

Ao mesmo tempo que imaginário — era um mundo de se comer com os dentes, um mundo de volumosas dálias e tulipas. Os troncos eram percorridos por parasitas folhudas, o abraço era macio, colado. Como a repulsa que precedesse uma entrega — era fascinante, a mulher tinha nojo, e era fascinante.

As árvores estavam carregadas, o mundo era tão rico que apodrecia. Quando Ana pensou que havia crianças e homens grandes com fome, a náusea subiu-lhe à garganta, como se ela estivesse grávida e abandonada. A moral do Jardim era outra. Agora que o cego a guiara até ele, estremecia nos primeiros passos de um mundo faiscante, sombrio, onde vitórias-régias boiavam monstruosas. As pequenas flores espalhadas na relva não lhe pareciam amarelas ou rosadas, mas cor de mau ouro e escarlates. A decomposição era profunda, perfumada... Mas todas as pesadas coisas, ela via com a cabeça rodeada por um enxame de insetos enviados pela vida mais fina do mundo. A brisa se insinuava entre as flores. Ana mais adivinhava que sentia o seu cheiro adocicado... O Jardim era tão bonito que ela teve medo do Inferno.

Era quase noite agora e tudo parecia cheio, pesado, um esquilo voou na sombra. Sob os pés a terra estava fofa, Ana aspirava-a com delícia. Era fascinante, e ela sentia nojo.

Mas quando se lembrou das crianças, diante das quais se tornara culpada, ergueu-se com uma exclamação de dor. Agarrou o embrulho, avançou pelo atalho obscuro, atingiu a alameda. Quase corria — e via o Jardim em torno de si, com sua impersonalidade soberba. Sacudiu os portões fechados, sacudia-os segurando a madeira áspera. O vigia apareceu espantado de não a ter visto.

Enquanto não chegou à porta do edifício, parecia à beira de um desastre. Correu com a rede até o elevador, sua alma batia-lhe no peito — o que sucedia? A piedade pelo cego era tão violenta como uma ânsia, mas o mundo lhe parecia seu, sujo, perecível, seu. Abriu a porta de casa. A sala era grande, quadrada, as maçanetas brilhavam limpas, os vidros da janela brilhavam, a lâmpada brilhava — que nova terra era essa? E por um instante a vida sadia que levara até agora pareceu-lhe um modo moralmente louco de viver. O menino que se aproximou correndo era um ser de pernas compridas e rosto igual ao seu, que corria e a abraçava. Apertou-o com força, com espanto. Protegia-se tremula. Porque a vida era periclitante. Ela amava o mundo, amava o que fora criado — amava com nojo. Do mesmo modo como sempre fora fascinada pelas ostras, com aquele vago sentimento de asco que a aproximação da verdade lhe provocava, avisando-a. Abraçou o filho, quase a ponto de machucá-lo. Como se soubesse de um mal — o cego ou o belo Jardim Botânico? — agarrava-se a ele, a quem queria acima de tudo. Fora atingida pelo demônio da fé. A vida é horrível, disse-lhe baixo, faminta. O que faria se seguisse o chamado do cego? Iria sozinha... Havia lugares pobres e ricos que precisavam dela. Ela precisava deles... Tenho medo, disse. Sentia as costelas delicadas da criança entre os braços, ouviu o seu choro assustado. Mamãe, chamou o menino. Afastou-o, olhou aquele rosto, seu coração crispou-se. Não deixe mamãe te esquecer, disse-lhe. A criança mal sentiu o abraço se afrouxar, escapou e correu até a porta do quarto, de onde olhou-a mais segura. Era o pior olhar que jamais recebera. Q sangue subiu-lhe ao rosto, esquentando-o.

Deixou-se cair numa cadeira com os dedos ainda presos na rede. De que tinha vergonha?

Não havia como fugir. Os dias que ela forjara haviam-se rompido na crosta e a água escapava. Estava diante da ostra. E não havia como não olhá-la. De que tinha vergonha? É que já não era mais piedade, não era só piedade: seu coração se enchera com a pior vontade de viver.

Já não sabia se estava do lado do cego ou das espessas plantas. O homem pouco a pouco se distanciara e em tortura ela parecia ter passado para o lados que lhe haviam ferido os olhos. O Jardim Botânico, tranqüilo e alto, lhe revelava. Com horror descobria que pertencia à parte forte do mundo — e que nome se deveria dar a sua misericórdia violenta? Seria obrigada a beijar um leproso, pois nunca seria apenas sua irmã. Um cego me levou ao pior de mim mesma, pensou espantada. Sentia-se banida porque nenhum pobre beberia água nas suas mãos ardentes. Ah! era mais fácil ser um santo que uma pessoa! Por Deus, pois não fora verdadeira a piedade que sondara no seu coração as águas mais profundas? Mas era uma piedade de leão.

Humilhada, sabia que o cego preferiria um amor mais pobre. E, estremecendo, também sabia por quê. A vida do Jardim Botânico chamava-a como um lobisomem é chamado pelo luar. Oh! mas ela amava o cego! pensou com os olhos molhados. No entanto não era com este sentimento que se iria a uma igreja. Estou com medo, disse sozinha na sala. Levantou-se e foi para a cozinha ajudar a empregada a preparar o jantar.

Mas a vida arrepiava-a, como um frio. Ouvia o sino da escola, longe e constante. O pequeno horror da poeira ligando em fios a parte inferior do fogão, onde descobriu a pequena aranha. Carregando a jarra para mudar a água - havia o horror da flor se entregando lânguida e asquerosa às suas mãos. O mesmo trabalho secreto se fazia ali na cozinha. Perto da lata de lixo, esmagou com o pé a formiga. O pequeno assassinato da formiga. O mínimo corpo tremia. As gotas d'água caíam na água parada do tanque. Os besouros de verão. O horror dos besouros inexpressivos. Ao redor havia uma vida silenciosa, lenta, insistente. Horror, horror. Andava de um lado para outro na cozinha, cortando os bifes, mexendo o creme. Em torno da cabeça, em ronda, em torno da luz, os mosquitos de uma noite cálida. Uma noite em que a piedade era tão crua como o amor ruim. Entre os dois seios escorria o suor. A fé a quebrantava, o calor do forno ardia nos seus olhos.

Depois o marido veio, vieram os irmãos e suas mulheres, vieram os filhos dos irmãos.

Jantaram com as janelas todas abertas, no nono andar. Um avião estremecia, ameaçando no calor do céu. Apesar de ter usado poucos ovos, o jantar estava bom. Também suas crianças ficaram acordadas, brincando no tapete com as outras. Era verão, seria inútil obrigá-las a dormir. Ana estava um pouco pálida e ria suavemente com os outros. Depois do jantar, enfim, a primeira brisa mais fresca entrou pelas janelas. Eles rodeavam a mesa, a família. Cansados do dia, felizes em não discordar, tão dispostos a não ver defeitos. Riam-se de tudo, com o coração bom e humano. As crianças cresciam admiravelmente em torno deles. E como a uma borboleta, Ana prendeu o instante entre os dedos antes que ele nunca mais fosse seu.

Depois, quando todos foram embora e as crianças já estavam deitadas, ela era uma mulher bruta que olhava pela janela. A cidade estava adormecida e quente. O que o cego desencadeara caberia nos seus dias? Quantos anos levaria até envelhecer de novo? Qualquer movimento seu e pisaria numa das crianças. Mas com uma maldade de amante, parecia aceitar que da flor saísse o mosquito, que as vitórias-régias boiassem no escuro do lago. O cego pendia entre os frutos do Jardim Botânico.

Se fora um estouro do fogão, o fogo já teria pegado em toda a casa! pensou correndo para a cozinha e deparando com o seu marido diante do café derramado.

— O que foi?! gritou vibrando toda.

Ele se assustou com o medo da mulher. E de repente riu entendendo:

— Não foi nada, disse, sou um desajeitado. Ele parecia cansado, com olheiras.

Mas diante do estranho rosto de Ana, espiou-a com maior atenção. Depois atraiu-a a si, em rápido afago.

— Não quero que lhe aconteça nada, nunca! disse ela.

— Deixe que pelo menos me aconteça o fogão dar um estouro, respondeu ele sorrindo.

Ela continuou sem força nos seus braços. Hoje de tarde alguma coisa tranqüila se rebentara, e na casa toda havia um tom humorístico, triste. É hora de dormir, disse ele, é tarde. Num gesto que não era seu, mas que pareceu natural, segurou a mão da mulher, levando-a consigo sem olhar para trás, afastando-a do perigo de viver.

Acabara-se a vertigem de bondade.

E, se atravessara o amor e o seu inferno, penteava-se agora diante do espelho, por um instante sem nenhum mundo no coração. Antes de se deitar, como se apagasse uma vela, soprou a pequena flama do dia.

Clarice Lispector

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

feliz aturtido

estou feliz!
muito feliz!
estou feliz!
muito feliz!
nao consigo mais...
nao consigo mais...
nao consigo mais guardar...
esta felicidade so pra mim.
estou feliz!
é muito so pra mim.
estou feliz!
é muito so pra mim.
estou feliz!
nao consigo mais guardar...
tanto...
estou feliz!
tanto...
que'la nao desagua...
tanto...
que'la nao desagua em pranto.
estou feliz!
muito feliz!
nao consigo mais guardar...
nao consigo mais guardar ...
esta felicidade so pra mim.
estou feliz!
estou tao feliz...
estou tao feliz...
que seria ate egoismo...
seria egoismo...
guarda-la so pra mim.
é tanta felicidade...
que quero dividir.
é tanta felicidade...
que vou explodir.
é tanta felicidade.
estou feliz!
muito feliz!
tao feliz!
tao feliz que nao aguento.
tire um pouco de mim...
tire um pouco de mim...
é tanto que nao aguento.
nao consigo expressar em pranto...
é tanto...
que nao aguento.
é tanto que nao aguento.
tire um pouco de mim...
tire um pouco de mim...
tire um pouco de mim...
é tanto que nao aguento.
nao consigo expressar em pranto.
tire um pouco de mim...
tire um pouco de mim...
tire um pouco de mim...
tire um pouco de mim...
estou muito feliz!
é tanto que nao aguento...
é tanta que nao suporto...
é tanto que nao aguento...
é tanta que nao suporto...
é tanto que nao aguento...
é tanto que nao suporto...
tire de mim...
tire de mim...
tire um pouco de mim...
tire um pouco de mim...
tire um pouco de mim...
tire um pouco de mim...
tire um pouco de mim...
tire um pouco de mim...
tire um pouco de mim...
tire um pouco de mim...
nao quero ser assim
tire um pouco de mim...

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Otombó



aproveitando pra vende meu peixe
nao agento mais essa aritmia

terça-feira, 2 de outubro de 2007

"Do Homem pós-moderno pra cá"

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

sobre o tempo...o acaso...e o futuro

ser um humano, é batalhar eternamente contra o lado mais forte do adversario-a casualidade. E desistir somente quando for para descansar, tomar forças, e reascender na guerra. Ela(casualidade) sempre vence, mas isso nao quer dizer que devemos agir como perdedores. Resistir e lutar, eis o nosso trofeu da vitoria.




vinicius

eh pra vc ....

caçado ....eh pouco
exilado.... eh pouco
torturado.... eh pouco
exumado.... eh pouco
internado ....eh pouco
no inferno , eh pouco

quero mais

quero saber por que...
de voce me ignorar ....
de voce maltratar ....
de voce a mao me dar...
de voce me beijar ....
de voce ficar....
de voce me namorar....
pra depois voce partir.

caçado
exilado
torturado
exumado
internado
no inferno
pra depois vc partir

experimente
experiente

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Dia dos namorados

Marçal Aquino


O rapaz e a moça entraram na pousada e, de um jeito tímido, ele perguntou o preço da diária. O velho Lilico informou e o rapaz e a moça trocaram um olhar em que faiscaram jóias de diversos tamanhos. A maior delas era a cumplicidade.

Enquanto o rapaz preenchia a ficha de entrada, a moça se afastou um pouco para examinar melhor o quadro na parede — e pude vê-la por inteiro.

Era muito bonita. Tinha os cabelos e a pele claros. Alta, magra, ossos salientes nos ombros. Estava no mundo há pouco mais de uma década e meia e, com certeza, alguém que recusara já havia escrito poemas desesperados pensando nela. Ou cortado os pulsos — o que é quase a mesma coisa.

Embora não merecesse, o quadro recebeu toda sua atenção por alguns instantes. Era uma pintura ordinária. Eu já tivera a oportunidade de analisá-la durante as longas tardes em que a chuva me impedia de sair para caminhar pela cidade. Uma cidade habitada, fora da temporada turística, por velhos, aposentados e hippies extemporâneos. Gente que tentava, de um jeito ou de outro, ser esquecida.

O quadro: penso que o artista havia experimentado um momento de genuína felicidade ao contemplar, em algum canto do país, aquelas montanhas, aquele prado, aqueles cavalos. E, generoso, decidira compartilhar esse momento com o resto da humanidade. Mas a verdade é que fracassara. A arte não é feita de boas intenções.

O olhar com que a moça se despediu — para sempre — daquela obra continha um pouco de piedade. E, com isso, ela me conquistou em definitivo.

O velho Lilico entregou a chave ao rapaz, que se voltou e sorriu para a moça. Seu ar era de alguém vitorioso. Mas sou capaz de apostar que a mão que ele juntou à dela, antes de subirem a escada de madeira, tinha a palma molhada de suor. Havia um princípio de rubor no rosto dela. Eram muito jovens e estavam vivendo um grande momento, mas não sabiam disso ainda. Essas coisas a gente só compreende depois.

Lilico deixou o balcão da recepção e foi até a copa, onde falou alguma coisa para Jair, um de seus empregados. Em seguida veio até a mesa que eu ocupava.

"Gosto de gente que chega para hospedar-se sem nenhuma bagagem", ele comentou.

"E a felicidade que eles carregam, não conta?", eu perguntei.

Ele examinou o tabuleiro, como se estivesse tentando rememorar a jogada que pretendia fazer antes de ser interrompido pela chegada do casal.

"Mandei o Jair levar uma garrafa de champanhe para eles. Cortesia da casa”.

"Fez bem", eu disse.

"Gozado, sabe quem essa moça me lembrou?"

Eu disse: "Sei".

"Acho que foram os olhos dela", ele falou. "Muito parecidos."

Retomamos o jogo e não falamos mais do casal. Eu, porém, continuei pensando neles. Num dia como aquele, anos antes, uma mulher, que entrava comigo num hotel bem diferente daquela pousada, me dissera: "Hoje eu vou te dar um presente muito especial".

Um pouco depois da meia-noite interrompemos o jogo e o velho Lilico recolheu as peças e guardou o tabuleiro. E eu já estava no meio da escada, a caminho do meu quarto, quando ele perguntou:

"Você ainda pensa nela?"

"De vez em quando eu penso."

"E por que você não vai atrás dela? Vocês dois ainda têm alguns anos pela frente."

"A mágica não acontece duas vezes", eu disse.

O velho Lilico balançou a cabeça.

"Você sabe que só em filme francês antigo o herói termina seus dias em hotéis vagabundos, escrevendo livros que nunca irá publicar”.

Eu me limitei a sorrir. Então ele me desejou "boa noite" e voltou para a recepção.

Eu subi a escada e, ao chegar ao corredor, parei diante da porta do quarto que o casal ocupava e tentei ouvir alguma coisa. Mas tudo estava silencioso. Entrei nó meu quarto e, enquanto me despia, pensei no velho Lilico. Ele tinha razão: ainda me restavam alguns anos pela frente. E essa era a pior parte da história.