quinta-feira, 31 de julho de 2008

O mundo conduz-se por mentiras. Quem quiser despertá-lo ou conduzi-lo terá que mentir-lhe delirantemente, e fá-lo-á com tanto mais êxito quanto mais mentir a si mesmo e se compenetrar da verdade da mentira que criou.
FERNANDO PESSOA

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Nada mais desaparece pelo fim ou pela morte. Se quer acabar com algo, prolifere, contamine, sature! Nada desaparece se você o esconde, use a transparência. É o simulacro de que algo morreu que mantém teu algo vivo. Leve ao extremo, Cause a metástese daquilo que deseja diluir. Se empenhe na disseminação patológica, se inspire em uma difusão virótica, recorra as proliferações excessivas e caóticas, banalize, possibilite a hiper-exposição do teu algo, lhe dê visibilidade exagerada e doentia. Inunde de luz.

Lembre: o excesso de luz faz desaparecer uma imagem.

E acredite: não passa de imagem.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Reflexoes Continuadas do Campo

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nas nuvens do ceu pintei flores azuis
e soprei a brisa com suave perfume
onde que encontro o verdadeiro caminho
para o jardim com abraços de rosas
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fiquei a perseguir lindas borboletas
de longas e amarelas asas voadoras
que direçao segui ate o anoitecer
do sol de ultimo raio iluminado
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no segredo das longas mantas verdes
de uma arvore elevada alem das vistas
confessei a desalegria colorida
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onde estao os lirios que me descansavam
enquanto dormia nas folhas ja secas
de tanto esperar o orvalho do dia
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quarta-feira, 16 de julho de 2008

Visto que talvez nem tudo seja falso, que nada, ó meu amor, nos cure do prazer quase-espasmo de mentir. Requinte último! Perversão máxima! A mentira absurda tem todo o encanto do perverso com o último e maior encanto de ser inocente. A perversão de propósito inocente – quem excederá, ó [...] o requinte máximo disto? A perversão que nem aspira a dar-nos gozo, que nem tem a fúria de nos causar dor, que cai para o chão entre o prazer e a dor, inútil e absurda como um brinquedo mal feito com que um adulto quisesse divertir-se! Não conheces, ó Deliciosa, o prazer de comprar coisas que não são precisas? Sabes o sabor aos caminhos que, se os tomássemos esquecidos, era por erro que os tomaríamos? Que acto humano tem uma cor tão bela como os actos espúrios – [...] que mentem à sua própria natureza e desmentem o que lhes é a intenção? A sublimidade de desperdiçar uma vida que podia ser útil, de nunca executar uma obra que por força seria bela, de abandonar a meio caminho a estrada certa da vitória! Ah, meu amor, a glória das obras que se perderam e nunca se acharão, dos tratados que são títulos apenas hoje, das bibliotecas que arderam, das estátuas que foram partidas. Que santificados do Absurdo os artistas que queimaram uma obra muito bela, daqueles que, podendo fazer uma obra bela, de propósito a fizeram imperfeita, daqueles poetas máximos do Silêncio que, reconhecendo que poderiam fazer obra de todo perfeita, preferiram ousá-la de nunca a fazer. (Se fora imperfeita, vá). Quão mais bela a Gioconda desde que a não pudéssemos ver! E se quem a roubasse a queimasse, quão artista seria, que maior artista que aquele que a pintou! Por que é bela a arte? Porque é inútil. Por que é feia a vida? Porque é toda fins e propósitos e intenções. Todos os seus caminhos são para ir de um ponto para o outro. Quem nos dera o caminho feito de um lugar donde ninguém parte para um lugar para onde ninguém vai! Quem desse a sua vida a construir uma estrada começada meio de um campo e indo ter ao meio de um outro; que, prolongada, seria útil, mas que ficava, sublimemente, só o meio de uma estrada. A beleza das ruínas? O não servirem já para nada. A doçura do passado? O recordá-lo, porque recordá-lo é torná-lo presente, e ele nem o é, nem o pode ser – o absurdo, meu amor, o absurdo. E eu que digo isto – por que escrevo eu este livro? Porque o reconheço imperfeito. Calado seria a perfeição; escrito, imperfeiçoa-se; por isso escrevo. E, sobretudo, porque defendo a inutilidade, o absurdo [...], – eu escrevo este livro para mentir a mim próprio, para trair a minha própria teoria. E a suprema glória disto tudo, meu amor, é pensar que talvez isto não seja verdade, nem eu o creia verdadeiro. E quando a mentira começar a dar-nos prazer, falemos a verdade para lhe mentirmos. E quando nos causar angústia, paremos para que o sofrimento nos não signifique nem perversamente prazer...
FERNANDO PESSOA

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Amigos o caralho

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eu fui abrir a porra da caixa de emails dessa conta aqui, e tem um monte de email do AMIGOS.COM. quem e' o puto carente que fica entrando em site de relacionamento pra encontra namorada? porra, mas nem eu faco isso.
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so tem os perdidos mesmo hein.
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kkkk
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terça-feira, 1 de julho de 2008

Monologo para o Homem Completo - tres *

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o que é isso que chamam de poesia?com certeza nao é o que eu entendo pelo mesmo nome. pois o que vejo é mais uma linha em seus curriculos. e de todo o montante de propositos inuteis que dizem nao terem, se sobressai aquele a que chaman identidade. o que melhor do que ser diferente? pois nao sei o que seria melhor, ja que assim voces me perguntam. mas eis que a diferença que tanto procuram é igualmente copiada por tantos como voces. o que sai de suas letras nao é nada mais do que as camisas pretas, os sonhos incitados pela midia, e as esperanças de quererem ser mais humanos do que verdadeiramente são. entao porque renegar isso? porque voces tentam se afastar do que sao e do que todos, em algum grau, compartilham com voces? porque querem ser mais do que outros animais com igual capacidade de pensar e subverter? o que entendo é que antes de tudo voces querem se superar, mas sem admitrem que sao meros humanos. volto mais uma vez a literatura que exibem em suas letras. essas letras, se sao suor e sangue, sao do tipo mais comum, igual a que todos temos, e nao de um ser especial(seja esse ser aquele que pensa sofrer mais do que outros, ou que se acha mais apto em algum criterio). sinto, senhores e senhoras, mas assim como voces sou tao comum como os politicos a quem xingam, como a namorada para quem se declaram, como os ricos que voces deploram, os pobres que admiram, como a todos que juntos se formam de braços e pernas. mas sou tao humano, passo tao longe de ser diferente, que consigo me enxergar na medida em que me componho. caso queiram argumentar que ate mesmo nisso(no fato de ser humano) eu falo como se fosse diferente, como se me sentisse no direito de nao me aparentar a voces, eu respondo que nao sou eu quem quer metamorfosear carne e sangue. nao me culpem por ser a unica coisa no qual sei que posso obter sucesso(assim como todos da minha especie) - ser um humano - se sao voces que renegam a si mesmos em troca da tal 'individualidade', ou a favor ta propensa ''identidade'. nao queiram se aproveitar das nossas capacidades de ser um 'completo' apenas para favorecerem suas expectativas inalcançaveis, e me colocar como o alvo das suas disputas e de seus disparos de rojoes ideologicos. se é pobre, preto, lesbica, dona de casa, excluida, amante, rebelde, ou tudo mais, saiba que sou tanto quanto voces, e sou ainda mais, porque nao utilizo adjetivos como esses para tentar criar um sinonimo do que realmente sou - um ser humano.
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* carta aos que se esquecem o que sao
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