quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Manifesto da Antropofagia Periférica

Sérgio Vaz

A Periferia nos une pelo amor, pela dor e pela cor. Dos becos e vielas há de vir a voz que grita contra o silêncio que nos pune. Eis que surge das ladeiras um povo lindo e inteligente galopando contra o passado. A favor de um futuro limpo, para todos os brasileiros.

A favor de um subúrbio que clama por arte e cultura, e universidade para a diversidade. Agogôs e tamborins acompanhados de violinos, só depois da aula. Contra a arte patrocinada pelos que corrompem a liberdade de opção. Contra a arte fabricada para destruir o senso crítico, a emoção e a sensibilidade que nasce da múltipla escolha.

A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.

A favor do batuque da cozinha que nasce na cozinha e sinhá não quer. Da poesia periférica que brota na porta do bar.

Do teatro que não vem do "ter ou não ter...". Do cinema real que transmite ilusão.

Das Artes Plásticas, que, de concreto, querem substituir os barracos de madeira.

Da Dança que desafoga no lago dos cisnes. Da Música que não embala os adormecidos.

Da Literatura das ruas despertando nas calçadas.

A Periferia unida, no centro de todas as coisas.

Contra o racismo, a intolerância e as injustiças sociais das quais a arte vigente não fala.

Contra o artista surdo-mudo e a letra que não fala.

É preciso sugar da arte um novo tipo de artista: o artista-cidadão. Aquele que na sua arte não revoluciona o mundo, mas também não compactua com a mediocridade que imbeciliza um povo desprovido de oportunidades. Um artista a serviço da comunidade, do país. Que, armado da verdade, por si só exercita a revolução.

Contra a arte domingueira que defeca em nossa sala e nos hipnotiza no colo da poltrona.

Contra a barbárie que é a falta de bibliotecas, cinemas, museus, teatros e espaços para o acesso à produção cultural.

Contra reis e rainhas do castelo globalizado e quadril avantajado.

Contra o capital que ignora o interior a favor do exterior. Miami pra eles? "Me ame pra nós!".

Contra os carrascos e as vítimas do sistema.

Contra os covardes e eruditos de aquário.

Contra o artista serviçal escravo da vaidade.

Contra os vampiros das verbas públicas e arte privada.

A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.

Por uma Periferia que nos une pelo amor, pela dor e pela cor.

É TUDO NOSSO!



da semana de arte moderna da periferia

terça-feira, 30 de outubro de 2007

65

Copo vazio,
trinta e cinco centavos contados:duas vezes.
Ah,essa vida...
os carros soltando fumaça na Raposo
cachorros abandonados esperando morrer
só uma espuminha sobra desse moedor no fundo do copo:
melhor bebê-la devagarinho ,meu caro.
Uma mulher linda ,pézinhos bonitos
ela não gosta de falar ,me dá tesão
mas nem posso pagar cerveja ;sei que não vira .
Podem rir e criar intrigas ,vocês venceram por ora
jogar os dados nunca dá 7 duas vezes seguidas.
fecharam os bingos
nem jogo de bolinha no centro em caixotes.
Sessenta e cinco centavos pra uma latinha...

Belmont

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

diz se do homem

Diz-se do homem que muito dá:
"Queres receber em igual valor".
Dê entao o menos,
E receba o nada mais.
Orgulho?
Não!
Amor proprio
E com paixão.
Isto que chame autopreservaçao.


KO

sim

Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.


ricardo reis

breve o dia

Breve o dia, breve o ano, breve tudo.

Não tarda nada sermos.

Isto, pensado, me de a mente absorve

Todos mais pensamentos.

O mesmo breve ser da mágoa pesa-me,

Que, inda que mágoa, é vida


ricardo reis

uma apos uma

Uma após uma as ondas apressadas
Enrolam o seu verde movimento
E chiam a alva 'spuma
No moreno das praias.
Uma após uma as nuvens vagarosas
Rasgam o seu redondo movimento
E o sol aquece o 'spaço
Do ar entre as nuvens 'scassas.
Indiferente a mim e eu a ela,
A natureza deste dia calmo
Furta pouco ao meu senso
De se esvair o tempo.
Só uma vaga pena inconseqüente
Pára um momento à porta da minha alma
E após fitar-me um pouco
Passa, a sorrir de nada


ricardo reis

domingo, 21 de outubro de 2007

contos inacabados parteVII

Acordo... Do lado apenas um copo vazio, meu velho maço de cigarros e um olhar distante, Apresso-me vestir-me ainda é aquilo que me conduz ai perdão. Viro-me e observo. O velho quarto pegadas silenciosas e um turbilhão de pensamentos...Imagens...
As luzes ainda piscam lá fora, os letreiros ainda acendem e apagam num ritmo frenético, é madrugada.
Um corpo estendido, ainda revela desejo e paixão... exala ainda o doce frescor do suor e os olhares entrelaçados em algum ponto distante que nos separa do real. Ali, de pé, deixo escapar um sorriso vazio, um olhar cativo e intenso. Sou o que quero mas não o que devo, penso...
Despeço-me, não será a última nem a única.
Ele me olha e fecha os olhos como se dissesse um até logo.
Será esta, aquela, aquela.
Abro a porta, os carros passam.
Preciso pegar o trem

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

contos inacabados parte VIII

Essa noite sonhei com ele, foi estranho...pois não dormia. Um silencio interminável existia entre nós, nada declarado, nada antes mesmo combinado. Apenas nos olhávamos curiosos por nós mesmo, cada movimento...cada respiração...em compassos. Ele levantou-se e estendeu-me seus longos braços e sorriu. Um sorriso por mim conhecido e sem mistérios. Apenas um sorriso. Deparei-me diante de mim mesma naquele interminável sorriso. Passos mudos e silenciosos me restaram. Caminhamos por entre ruas antes conhecidas e por esquinas tão semelhantes a outras esquinas. Sombras e ausência delas. Um ao lado do outro não sabíamos bem ao certo pra onde iríamos, apenas caminhávamos. Ofereceu-me um cigarro e com um sorriso novamente acendeu o seu e me ofereceu fósforos meio que encharcados, úmidos de suas mãos. Era um silencio barulhento. Passos inconstante e agora um cigarro sem gosto. Esgueiramos-nos de nossos temores e de todos os olhares que sempre nos acompanharam.
Achamos um banco, um banco desses qualquer de praça. Sentamos e ele me deu algumas flores mortas, as crianças corriam ao longe e podíamos ouvir seus sorrisos. Não haviam motivos, nem distrações pra sentarmos ali. Apenas eu e ele, ele e eu. Com seus braços envolta de mim, olhávamos as estrelas e no silencio nos comunicávamos por sinais e emblemas que passavam. Em meus pensamentos passavam inúmeras estrelas cadentes recheadas de conflitos e perguntas sem sentido. Por um instante não me senti só. Minhas pernas se encolhiam e sentia frio, um frio insuportável. Ele ao perceber que encolhia-me naquele banco apertou-me entre os braços e proferiu uma única palavra: “VEM...” e nada mais. O frio dentro de mim se encolheu naquele mesmo instante e passei a ver seus olhos. Como se estivesse encantada, seduzida me ergui e com o corpo dele colado ao meu dançamos ali mesmo. Me senti livre, mas meus pés ainda assim estavam presos, minhas asas não se libertaram e não podia voar. Enquanto dançávamos pairávamos no ar e senti que as correntes me puxavam pra baixo. Dor, muita dor e a necessidade de fugir daquelas amarras me traziam angústia. Fiz força, o sangue escorria pelos meus tornozelos... me soltei a custa de muita dor, dor. Voamos e me encontrei. Eu e ele éramos um só. E sabíamos pra onde ir. Sorrimos novamente. Mas agora sem receios. Encontrei-me, pensei. Ele era eu, não sei como, mas era. Minha transfiguração, minha metamorfose perfeita. Sons e sorrisos passei a ouvir e os passos fizeram barulho. O horizonte era o limite. Sorrindo o beijei e sentir beijar a mim mesma. Chorei convulsivamente, mas diferente das outras vezes não me senti triste. Meus pensamentos fluíram e minha mente foi além...
Um trovão e chuva. Abri os olhos assustados.
Ainda estava no banco, sozinha.

Amor, Verbo Intransitivo


ao amigo dieguinho:

Se os olhares se cruzarem e, neste momento houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta:

Esta pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia que nasceu.

Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa

Se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça:

Deus te mandou um presente divino - o amor.

Se um dia tiverem que pedir perdão um ao outro por algum motivo e em trocarem um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos de modo que estes gestos valham mais do que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um para o outro.

Se você conseguir em pensamento, sentir o cheiro da pessoa, como se ela estivesse ali ao seu lado.

Se por algum motivo você estiver triste, porque a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura,

Que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em todos os momentos de sua vida

Se você achar a pessoa maravilhosamente linda, mesmo ela estando de pijama velho, chinelos de dedo e cabelos emaranhados,

Se você não conseguir trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que está marcado para a noite.

Se você não consegue imaginar, de maneira nenhuma um futuro sem a presença dessa pessoa ao seu lado.

É o amor que chegou na sua vida. É uma dádiva.

Se você tiver a certeza que vai vê-la envelhecer e, mesmo assim tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela,

Se você preferir morrer, antes de vê-la partindo

É o amor que chegou na sua vida!

Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego de modo que não perceba a melhor coisa da vida:

Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes durante a vida, mas poucas amam ou encontram um amor verdadeiro.

Ou, às vezes encontram, mas por não prestarem atenção nos sinais, deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente.

Preste atenção nos sinais e não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O amor.

Drummond

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

posso

no posso...
podemos de tudo...
chorar sem sofrer,
e sofrer sem amar.
amar?amar?amar?
amar é do posso!
eu posso
eu posso,
no posso...
podemos de tudo...
amar sem sofrer...
viver sem viver...
morrer pra viver...
viver pra morrer...
no posso...
no posso podemos de tudo.
no posso...
podemos matar.
no posso...
podemos chorar.
mas no posso...
nada adianta.
mas no posso...
nada avança.
no posso...
tudo se atrasa.
no posso...
no posso...
no posso...
é...
no posso...
que é o poço.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

A Execução

Aqui me consolo

Choro pelas lágrimas que não poderei mais ceder
Contemplo um futuro vazio
Vazio como o sangue que percorre minhas veias

Rezo pela existência de uma vida na não vida
Rogo pela existência de um Deus
E a dúvida me corrói, não há perspectiva

Busco em atos a imortalidade
Mas, mesmo que meu nome sobreviva,
Meu ser estará para sempre perdido no infinito

Na eternidade

Busco a redimissão, uma segunda chance
Imagino um céu
A esperança.
Mas, apenas ouço estas palavras
Que ardem na língua de quem as pronuncia:

Aqui jaz um morto
Que apesar de ter sido esquecido
Sempre terá existido.



Mais lágrimas







------ Sândalo

Uma vida

Sono
Pranto
Sono
Pranto
Sono
Acorda
Chão
Corda
Céu
Chão
Corda
Céu
Chão
Céu chão céu chão
Encanto
Livro
Beijo
tv
msn
Mundo?
Carro
Dinheiro
Arroz
Água
Luz
Telefone
Filho
Sono
Pranto
Sono




--- dona florinda

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

QUE...

Que a mãe terra cuide de nós e nós dela
Que as paixões sejam intensas e inesquecíveis,
Que os amigos sejam muitos e verdadeiros,
Que os momentos felizes sejam bem vividos e que sempre estejamos bem acompanhados,
Que os beijos sejam longos e cheios de desejo
Que o vinho seja tão bom quanto o da ultima vez que bebemos
Que a música seja mais alegre do que a que ouvimos ontem
Que os erros aconteçam e que as lições sejam ainda maiores
Que sempre existam fogueiras e amigos ao redor
Que os amores sejam eternos
Que as tardes de Sol sejam quentes
Que nas madrugadas chuvosas nossos pés estejam sempre aquecidos
Que o pôr-do-sol seja lindo
Que o fim de tarde seja cada vez mais nostálgico
Que as crianças sorriam mais
Que os velhos se amem mais
Que os adultos se preocupem menos
Que a vida seja bela
Que este poema tenha sentido
Que possamos amar mais
Que sejamos todos mais loucos
Que os sorrisos sejam mais altos
Que os gritos sejam mais fortes
Que o banho de chuva seja inesperado
Que o reencontro seja tão belo quando o encontro
Que a diversão não tenha fim
Que a música não pare
Que as coisas mais simples desta vida possam nos fazer felizes.
Que o fim seja só mais um começo

chapolin

Pagador de promessas

não teve visita no parto.
Não teve quarto, não teve berço.
Não teve pai que partiu cedo.
Não teve brinquedo.
Não teve tempo de jogar bola.
Sem saber ler e escrever era uma vítima fácil.
A carta na manga de mais um deputado.
Quantas vezes passou fome?
Anêmico, perambulando pelo centro da cidade.
Quantas noites com dor de dente e resfriado, nunca lembrado.
Ele teve a carroça como cruz e a honestidade como pecado.
Andarilho em busca de sonhos contrariando a estatistica.
Pela profecia da vizinha não passaria dos trinta.
Cuidado, revoltado, agora ele anda armado.
Está sempre com um volume debaixo do braço.
Não é revolver, nem é a bíblia.
É Dicionário.

chapolin

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Na floresta dos sonhos, dia a dia,
Se interna meu dorido pensamento.
Nas regiões do vago esquecimento
Me conduz, passo a passo, a phantasia.

Atravesso, no escuro, a nevoa fria
D'um mundo estranho, que povôa o vento,
E meu queixoso e incerto sentimento
Só das visões da noite se confia.

Que mysticos desejos me enlouquecem?
Do Nirvâna os abysmos apparecem,
A meus olhos, na muda immensidade!

N'esta viagem pelo ermo espaço,S
ó busco o teu encontro e o teu abraço,
Morte! irman do Amor e da Verdade!

antero de quental
aspiraçao

"Meus dias vão correndo vagarosos
Sem prazer e sem dor, e até parece
Que o foco interior já desfalece
E vacila com raios duvidosos.

É bela a vida e os anos são formosos,
E nunca ao peito amante o amor falece...
Mas, se a beleza aqui nos aparece,
Logo outra lembra de mais puros gosos.

Minh'alma, ó Deus! a outros céus aspira:
Se um momento a prendeu mortal beleza,
É pela eterna pátria que suspira...

Porém do presentir dá-me a certeza.
Dá-ma! e sereno, embora a dor me fira,
Eu sempre bendirei esta tristeza!"

antero de quental
Soneto Italiano

"Frescuras das sereias e do orvalho,
Graça dos brancos pes dos pequeninos,
Voz das anhãs cantando pelos sinos,
Rosa mais alta no mais alto galho:

De quem me valerei, se não me valho
De ti, que tens a chave dos destinos
Em que arderam meus sonhos cristalinos
Feitos cinza que em pranto ao vento espalho?

Também te vi chorar... Também sofreste
A dor de ver secarem pela estrada
As fontes da esperança... E não cedeste!

Antes, pobre, despida e trespassada,
Soubeste dar à vida, em que morreste,
Tudo - à vida, que nunca te deu nada!"

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

"Todo dia um ninguém josé acorda já deitado
Todo dia, ainda de pé, o zé dorme acordado
Todo dia o dia não quer raiar o sol do dia
Toda trilha é andada com fé de quem crê no ditado
De que o dia insiste em nascer
Mas o dia insiste em nascer pra ver deitar o novo
Toda rosa é rosa porque assim ela é chamada
Toda bossa é nova e você não liga se é usada
Todo o carnaval tem seu fim
Todo o carnaval tem seu fim
É o fim
É o fim
Deixa eu brincar de ser feliz, deixa eu pintar o meu
nariz !
Deixa eu brincar de ser feliz, deixa eu pintar o meu
nariz
Toda banda tem um tarol, quem sabe eu não toco?
Todo samba tem um refrão pra levantar o bloco
Toda escolha é feita por quem acorda já deitado
Toda folha elege um alguém que mora logo ao lado
E pinta o estandarte de azul
E põe suas estrelas no azul
Pra que mudar?
Deixa eu brincar de ser feliz, deixa eu pintar o meu
nariz !
Deixa eu brincar de ser feliz, deixa eu pintar o meu
nariz !
Deixa eu brincar de ser feliz, deixa eu pintar o meu
nariz !
Deixa eu brincar de ser feliz, deixa eu pintar o meu
nariz !
Deixa eu brincar de ser feliz, deixa eu pintar."
"Quis nunca te perder
tanto que demais
via em tudo céu
fiz de tudo cais
dei-te pra ancorar
doces deletérios
e quis ter os pés no chão
tanto eu abri mão
que hoje eu entendi
sonho não se dá
é botão de flor
o sabor de fel
é de cortar
eu sei é um doce te amar
o amargo é querer-te pra mim
do que eu preciso é lembrar, me ver
antes de te ter e de ser teu, muito bem
quis nunca te ganhar
tanto que forjei
asas nos teus pés
ondas pra levar
deixo desvendar
todos os mistérios
sei tanto te soltei
que você me quis
em todo o lugar
lia em cada olhar
quanta intenção
eu vivia preso
eu sei é um doce te amar
o amargo é querer-te pra mim
do que eu preciso é lembrar, me ver
antes de te ter e de ser teu
o que eu queria o que eu fazia o que mais?
e alguma coisa a gente tem que amar
mas o que não sei mais
os dias que eu me vejo só
são dias que eu me encontro mais
e mesmo assim eu sei também
existe alguém pra me libertar"

Amor

Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depositou o volume no colo e o bonde começou a andar. Recostou-se então no banco procurando conforto, num suspiro de meia satisfação.

Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores. Crescia sua rápida conversa com o cobrador de luz, crescia a água enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com comidas, o marido chegando com os jornais e sorrindo de fome, o canto importuno das empregadas do edifício. Ana dava a tudo, tranqüilamente, sua mão pequena e forte, sua corrente de vida.

Certa hora da tarde era mais perigosa. Certa hora da tarde as árvores que plantara riam dela. Quando nada mais precisava de sua força, inquietava-se. No entanto sentia-se mais sólida do que nunca, seu corpo engrossara um pouco e era de se ver o modo como cortava blusas para os meninos, a grande tesoura dando estalidos na fazenda. Todo o seu desejo vagamente artístico encaminhara-se há muito no sentido de tornar os dias realizados e belos; com o tempo, seu gosto pelo decorativo se desenvolvera e suplantara a íntima desordem. Parecia ter descoberto que tudo era passível de aperfeiçoamento, a cada coisa se emprestaria uma aparência harmoniosa; a vida podia ser feita pela mão do homem.

No fundo, Ana sempre tivera necessidade de sentir a raiz firme das coisas. E isso um lar perplexamente lhe dera. Por caminhos tortos, viera a cair num destino de mulher, com a surpresa de nele caber como se o tivesse inventado. O homem com quem casara era um homem verdadeiro, os filhos que tivera eram filhos verdadeiros. Sua juventude anterior parecia-lhe estranha como uma doença de vida. Dela havia aos poucos emergido para descobrir que também sem a felicidade se vivia: abolindo-a, encontrara uma legião de pessoas, antes invisíveis, que viviam como quem trabalha — com persistência, continuidade, alegria. O que sucedera a Ana antes de ter o lar estava para sempre fora de seu alcance: uma exaltação perturbada que tantas vezes se confundira com felicidade insuportável. Criara em troca algo enfim compreensível, uma vida de adulto. Assim ela o quisera e o escolhera.

Sua precaução reduzia-se a tomar cuidado na hora perigosa da tarde, quando a casa estava vazia sem precisar mais dela, o sol alto, cada membro da família distribuído nas suas funções. Olhando os móveis limpos, seu coração se apertava um pouco em espanto. Mas na sua vida não havia lugar para que sentisse ternura pelo seu espanto — ela o abafava com a mesma habilidade que as lides em casa lhe haviam transmitido. Saía então para fazer compras ou levar objetos para consertar, cuidando do lar e da família à revelia deles. Quando voltasse era o fim da tarde e as crianças vindas do colégio exigiam-na. Assim chegaria a noite, com sua tranqüila vibração. De manhã acordaria aureolada pelos calmos deveres. Encontrava os móveis de novo empoeirados e sujos, como se voltassem arrependidos. Quanto a ela mesma, fazia obscuramente parte das raízes negras e suaves do mundo. E alimentava anonimamente a vida. Estava bom assim. Assim ela o quisera e escolhera.

O bonde vacilava nos trilhos, entrava em ruas largas. Logo um vento mais úmido soprava anunciando, mais que o fim da tarde, o fim da hora instável. Ana respirou profundamente e uma grande aceitação deu a seu rosto um ar de mulher.

O bonde se arrastava, em seguida estacava. Até Humaitá tinha tempo de descansar. Foi então que olhou para o homem parado no ponto.

A diferença entre ele e os outros é que ele estava realmente parado. De pé, suas mãos se mantinham avançadas. Era um cego.

O que havia mais que fizesse Ana se aprumar em desconfiança? Alguma coisa intranqüila estava sucedendo. Então ela viu: o cego mascava chicles... Um homem cego mascava chicles.

Ana ainda teve tempo de pensar por um segundo que os irmãos viriam jantar — o coração batia-lhe violento, espaçado. Inclinada, olhava o cego profundamente, como se olha o que não nos vê. Ele mascava goma na escuridão. Sem sofrimento, com os olhos abertos. O movimento da mastigação fazia-o parecer sorrir e de repente deixar de sorrir, sorrir e deixar de sorrir — como se ele a tivesse insultado, Ana olhava-o. E quem a visse teria a impressão de uma mulher com ódio. Mas continuava a olhá-lo, cada vez mais inclinada — o bonde deu uma arrancada súbita jogando-a desprevenida para trás, o pesado saco de tricô despencou-se do colo, ruiu no chão — Ana deu um grito, o condutor deu ordem de parada antes de saber do que se tratava — o bonde estacou, os passageiros olharam assustados.

Incapaz de se mover para apanhar suas compras, Ana se aprumava pálida. Uma expressão de rosto, há muito não usada, ressurgia-lhe com dificuldade, ainda incerta, incompreensível. O moleque dos jornais ria entregando-lhe o volume. Mas os ovos se haviam quebrado no embrulho de jornal. Gemas amarelas e viscosas pingavam entre os fios da rede. O cego interrompera a mastigação e avançava as mãos inseguras, tentando inutilmente pegar o que acontecia. O embrulho dos ovos foi jogado fora da rede e, entre os sorrisos dos passageiros e o sinal do condutor, o bonde deu a nova arrancada de partida.

Poucos instantes depois já não a olhavam mais. O bonde se sacudia nos trilhos e o cego mascando goma ficara atrás para sempre. Mas o mal estava feito.

A rede de tricô era áspera entre os dedos, não íntima como quando a tricotara. A rede perdera o sentido e estar num bonde era um fio partido; não sabia o que fazer com as compras no colo. E como uma estranha música, o mundo recomeçava ao redor. O mal estava feito. Por quê? Teria esquecido de que havia cegos? A piedade a sufocava, Ana respirava pesadamente. Mesmo as coisas que existiam antes do acontecimento estavam agora de sobreaviso, tinham um ar mais hostil, perecível... O mundo se tornara de novo um mal-estar. Vários anos ruíam, as gemas amarelas escorriam. Expulsa de seus próprios dias, parecia-lhe que as pessoas da rua eram periclitantes, que se mantinham por um mínimo equilíbrio à tona da escuridão — e por um momento a falta de sentido deixava-as tão livres que elas não sabiam para onde ir. Perceber uma ausência de lei foi tão súbito que Ana se agarrou ao banco da frente, como se pudesse cair do bonde, como se as coisas pudessem ser revertidas com a mesma calma com que não o eram.

O que chamava de crise viera afinal. E sua marca era o prazer intenso com que olhava agora as coisas, sofrendo espantada. O calor se tornara mais abafado, tudo tinha ganho uma força e vozes mais altas. Na Rua Voluntários da Pátria parecia prestes a rebentar uma revolução, as grades dos esgotos estavam secas, o ar empoeirado. Um cego mascando chicles mergulhara o mundo em escura sofreguidão. Em cada pessoa forte havia a ausência de piedade pelo cego e as pessoas assustavam-na com o vigor que possuíam. Junto dela havia uma senhora de azul, com um rosto. Desviou o olhar, depressa. Na calçada, uma mulher deu um empurrão no filho! Dois namorados entrelaçavam os dedos sorrindo... E o cego? Ana caíra numa bondade extremamente dolorosa.

Ela apaziguara tão bem a vida, cuidara tanto para que esta não explodisse. Mantinha tudo em serena compreensão, separava uma pessoa das outras, as roupas eram claramente feitas para serem usadas e podia-se escolher pelo jornal o filme da noite - tudo feito de modo a que um dia se seguisse ao outro. E um cego mascando goma despedaçava tudo isso. E através da piedade aparecia a Ana uma vida cheia de náusea doce, até a boca.

Só então percebeu que há muito passara do seu ponto de descida. Na fraqueza em que estava, tudo a atingia com um susto; desceu do bonde com pernas débeis, olhou em torno de si, segurando a rede suja de ovo. Por um momento não conseguia orientar-se. Parecia ter saltado no meio da noite.

Era uma rua comprida, com muros altos, amarelos. Seu coração batia de medo, ela procurava inutilmente reconhecer os arredores, enquanto a vida que descobrira continuava a pulsar e um vento mais morno e mais misterioso rodeava-lhe o rosto. Ficou parada olhando o muro. Enfim pôde localizar-se. Andando um pouco mais ao longo de uma sebe, atravessou os portões do Jardim Botânico.

Andava pesadamente pela alameda central, entre os coqueiros. Não havia ninguém no Jardim. Depositou os embrulhos na terra, sentou-se no banco de um atalho e ali ficou muito tempo.

A vastidão parecia acalmá-la, o silêncio regulava sua respiração. Ela adormecia dentro de si.

De longe via a aléia onde a tarde era clara e redonda. Mas a penumbra dos ramos cobria o atalho.

Ao seu redor havia ruídos serenos, cheiro de árvores, pequenas surpresas entre os cipós. Todo o Jardim triturado pelos instantes já mais apressados da tarde. De onde vinha o meio sonho pelo qual estava rodeada? Como por um zunido de abelhas e aves. Tudo era estranho, suave demais, grande demais.

Um movimento leve e íntimo a sobressaltou — voltou-se rápida. Nada parecia se ter movido. Mas na aléia central estava imóvel um poderoso gato. Seus pêlos eram macios. Em novo andar silencioso, desapareceu.

Inquieta, olhou em torno. Os ramos se balançavam, as sombras vacilavam no chão. Um pardal ciscava na terra. E de repente, com mal-estar, pareceu-lhe ter caído numa emboscada. Fazia-se no Jardim um trabalho secreto do qual ela começava a se aperceber.

Nas árvores as frutas eram pretas, doces como mel. Havia no chão caroços secos cheios de circunvoluções, como pequenos cérebros apodrecidos. O banco estava manchado de sucos roxos. Com suavidade intensa rumorejavam as águas. No tronco da árvore pregavam-se as luxuosas patas de uma aranha. A crueza do mundo era tranqüila. O assassinato era profundo. E a morte não era o que pensávamos.

Ao mesmo tempo que imaginário — era um mundo de se comer com os dentes, um mundo de volumosas dálias e tulipas. Os troncos eram percorridos por parasitas folhudas, o abraço era macio, colado. Como a repulsa que precedesse uma entrega — era fascinante, a mulher tinha nojo, e era fascinante.

As árvores estavam carregadas, o mundo era tão rico que apodrecia. Quando Ana pensou que havia crianças e homens grandes com fome, a náusea subiu-lhe à garganta, como se ela estivesse grávida e abandonada. A moral do Jardim era outra. Agora que o cego a guiara até ele, estremecia nos primeiros passos de um mundo faiscante, sombrio, onde vitórias-régias boiavam monstruosas. As pequenas flores espalhadas na relva não lhe pareciam amarelas ou rosadas, mas cor de mau ouro e escarlates. A decomposição era profunda, perfumada... Mas todas as pesadas coisas, ela via com a cabeça rodeada por um enxame de insetos enviados pela vida mais fina do mundo. A brisa se insinuava entre as flores. Ana mais adivinhava que sentia o seu cheiro adocicado... O Jardim era tão bonito que ela teve medo do Inferno.

Era quase noite agora e tudo parecia cheio, pesado, um esquilo voou na sombra. Sob os pés a terra estava fofa, Ana aspirava-a com delícia. Era fascinante, e ela sentia nojo.

Mas quando se lembrou das crianças, diante das quais se tornara culpada, ergueu-se com uma exclamação de dor. Agarrou o embrulho, avançou pelo atalho obscuro, atingiu a alameda. Quase corria — e via o Jardim em torno de si, com sua impersonalidade soberba. Sacudiu os portões fechados, sacudia-os segurando a madeira áspera. O vigia apareceu espantado de não a ter visto.

Enquanto não chegou à porta do edifício, parecia à beira de um desastre. Correu com a rede até o elevador, sua alma batia-lhe no peito — o que sucedia? A piedade pelo cego era tão violenta como uma ânsia, mas o mundo lhe parecia seu, sujo, perecível, seu. Abriu a porta de casa. A sala era grande, quadrada, as maçanetas brilhavam limpas, os vidros da janela brilhavam, a lâmpada brilhava — que nova terra era essa? E por um instante a vida sadia que levara até agora pareceu-lhe um modo moralmente louco de viver. O menino que se aproximou correndo era um ser de pernas compridas e rosto igual ao seu, que corria e a abraçava. Apertou-o com força, com espanto. Protegia-se tremula. Porque a vida era periclitante. Ela amava o mundo, amava o que fora criado — amava com nojo. Do mesmo modo como sempre fora fascinada pelas ostras, com aquele vago sentimento de asco que a aproximação da verdade lhe provocava, avisando-a. Abraçou o filho, quase a ponto de machucá-lo. Como se soubesse de um mal — o cego ou o belo Jardim Botânico? — agarrava-se a ele, a quem queria acima de tudo. Fora atingida pelo demônio da fé. A vida é horrível, disse-lhe baixo, faminta. O que faria se seguisse o chamado do cego? Iria sozinha... Havia lugares pobres e ricos que precisavam dela. Ela precisava deles... Tenho medo, disse. Sentia as costelas delicadas da criança entre os braços, ouviu o seu choro assustado. Mamãe, chamou o menino. Afastou-o, olhou aquele rosto, seu coração crispou-se. Não deixe mamãe te esquecer, disse-lhe. A criança mal sentiu o abraço se afrouxar, escapou e correu até a porta do quarto, de onde olhou-a mais segura. Era o pior olhar que jamais recebera. Q sangue subiu-lhe ao rosto, esquentando-o.

Deixou-se cair numa cadeira com os dedos ainda presos na rede. De que tinha vergonha?

Não havia como fugir. Os dias que ela forjara haviam-se rompido na crosta e a água escapava. Estava diante da ostra. E não havia como não olhá-la. De que tinha vergonha? É que já não era mais piedade, não era só piedade: seu coração se enchera com a pior vontade de viver.

Já não sabia se estava do lado do cego ou das espessas plantas. O homem pouco a pouco se distanciara e em tortura ela parecia ter passado para o lados que lhe haviam ferido os olhos. O Jardim Botânico, tranqüilo e alto, lhe revelava. Com horror descobria que pertencia à parte forte do mundo — e que nome se deveria dar a sua misericórdia violenta? Seria obrigada a beijar um leproso, pois nunca seria apenas sua irmã. Um cego me levou ao pior de mim mesma, pensou espantada. Sentia-se banida porque nenhum pobre beberia água nas suas mãos ardentes. Ah! era mais fácil ser um santo que uma pessoa! Por Deus, pois não fora verdadeira a piedade que sondara no seu coração as águas mais profundas? Mas era uma piedade de leão.

Humilhada, sabia que o cego preferiria um amor mais pobre. E, estremecendo, também sabia por quê. A vida do Jardim Botânico chamava-a como um lobisomem é chamado pelo luar. Oh! mas ela amava o cego! pensou com os olhos molhados. No entanto não era com este sentimento que se iria a uma igreja. Estou com medo, disse sozinha na sala. Levantou-se e foi para a cozinha ajudar a empregada a preparar o jantar.

Mas a vida arrepiava-a, como um frio. Ouvia o sino da escola, longe e constante. O pequeno horror da poeira ligando em fios a parte inferior do fogão, onde descobriu a pequena aranha. Carregando a jarra para mudar a água - havia o horror da flor se entregando lânguida e asquerosa às suas mãos. O mesmo trabalho secreto se fazia ali na cozinha. Perto da lata de lixo, esmagou com o pé a formiga. O pequeno assassinato da formiga. O mínimo corpo tremia. As gotas d'água caíam na água parada do tanque. Os besouros de verão. O horror dos besouros inexpressivos. Ao redor havia uma vida silenciosa, lenta, insistente. Horror, horror. Andava de um lado para outro na cozinha, cortando os bifes, mexendo o creme. Em torno da cabeça, em ronda, em torno da luz, os mosquitos de uma noite cálida. Uma noite em que a piedade era tão crua como o amor ruim. Entre os dois seios escorria o suor. A fé a quebrantava, o calor do forno ardia nos seus olhos.

Depois o marido veio, vieram os irmãos e suas mulheres, vieram os filhos dos irmãos.

Jantaram com as janelas todas abertas, no nono andar. Um avião estremecia, ameaçando no calor do céu. Apesar de ter usado poucos ovos, o jantar estava bom. Também suas crianças ficaram acordadas, brincando no tapete com as outras. Era verão, seria inútil obrigá-las a dormir. Ana estava um pouco pálida e ria suavemente com os outros. Depois do jantar, enfim, a primeira brisa mais fresca entrou pelas janelas. Eles rodeavam a mesa, a família. Cansados do dia, felizes em não discordar, tão dispostos a não ver defeitos. Riam-se de tudo, com o coração bom e humano. As crianças cresciam admiravelmente em torno deles. E como a uma borboleta, Ana prendeu o instante entre os dedos antes que ele nunca mais fosse seu.

Depois, quando todos foram embora e as crianças já estavam deitadas, ela era uma mulher bruta que olhava pela janela. A cidade estava adormecida e quente. O que o cego desencadeara caberia nos seus dias? Quantos anos levaria até envelhecer de novo? Qualquer movimento seu e pisaria numa das crianças. Mas com uma maldade de amante, parecia aceitar que da flor saísse o mosquito, que as vitórias-régias boiassem no escuro do lago. O cego pendia entre os frutos do Jardim Botânico.

Se fora um estouro do fogão, o fogo já teria pegado em toda a casa! pensou correndo para a cozinha e deparando com o seu marido diante do café derramado.

— O que foi?! gritou vibrando toda.

Ele se assustou com o medo da mulher. E de repente riu entendendo:

— Não foi nada, disse, sou um desajeitado. Ele parecia cansado, com olheiras.

Mas diante do estranho rosto de Ana, espiou-a com maior atenção. Depois atraiu-a a si, em rápido afago.

— Não quero que lhe aconteça nada, nunca! disse ela.

— Deixe que pelo menos me aconteça o fogão dar um estouro, respondeu ele sorrindo.

Ela continuou sem força nos seus braços. Hoje de tarde alguma coisa tranqüila se rebentara, e na casa toda havia um tom humorístico, triste. É hora de dormir, disse ele, é tarde. Num gesto que não era seu, mas que pareceu natural, segurou a mão da mulher, levando-a consigo sem olhar para trás, afastando-a do perigo de viver.

Acabara-se a vertigem de bondade.

E, se atravessara o amor e o seu inferno, penteava-se agora diante do espelho, por um instante sem nenhum mundo no coração. Antes de se deitar, como se apagasse uma vela, soprou a pequena flama do dia.

Clarice Lispector

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

feliz aturtido

estou feliz!
muito feliz!
estou feliz!
muito feliz!
nao consigo mais...
nao consigo mais...
nao consigo mais guardar...
esta felicidade so pra mim.
estou feliz!
é muito so pra mim.
estou feliz!
é muito so pra mim.
estou feliz!
nao consigo mais guardar...
tanto...
estou feliz!
tanto...
que'la nao desagua...
tanto...
que'la nao desagua em pranto.
estou feliz!
muito feliz!
nao consigo mais guardar...
nao consigo mais guardar ...
esta felicidade so pra mim.
estou feliz!
estou tao feliz...
estou tao feliz...
que seria ate egoismo...
seria egoismo...
guarda-la so pra mim.
é tanta felicidade...
que quero dividir.
é tanta felicidade...
que vou explodir.
é tanta felicidade.
estou feliz!
muito feliz!
tao feliz!
tao feliz que nao aguento.
tire um pouco de mim...
tire um pouco de mim...
é tanto que nao aguento.
nao consigo expressar em pranto...
é tanto...
que nao aguento.
é tanto que nao aguento.
tire um pouco de mim...
tire um pouco de mim...
tire um pouco de mim...
é tanto que nao aguento.
nao consigo expressar em pranto.
tire um pouco de mim...
tire um pouco de mim...
tire um pouco de mim...
tire um pouco de mim...
estou muito feliz!
é tanto que nao aguento...
é tanta que nao suporto...
é tanto que nao aguento...
é tanta que nao suporto...
é tanto que nao aguento...
é tanto que nao suporto...
tire de mim...
tire de mim...
tire um pouco de mim...
tire um pouco de mim...
tire um pouco de mim...
tire um pouco de mim...
tire um pouco de mim...
tire um pouco de mim...
tire um pouco de mim...
tire um pouco de mim...
nao quero ser assim
tire um pouco de mim...

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Otombó



aproveitando pra vende meu peixe
nao agento mais essa aritmia

terça-feira, 2 de outubro de 2007

"Do Homem pós-moderno pra cá"

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

sobre o tempo...o acaso...e o futuro

ser um humano, é batalhar eternamente contra o lado mais forte do adversario-a casualidade. E desistir somente quando for para descansar, tomar forças, e reascender na guerra. Ela(casualidade) sempre vence, mas isso nao quer dizer que devemos agir como perdedores. Resistir e lutar, eis o nosso trofeu da vitoria.




vinicius

eh pra vc ....

caçado ....eh pouco
exilado.... eh pouco
torturado.... eh pouco
exumado.... eh pouco
internado ....eh pouco
no inferno , eh pouco

quero mais

quero saber por que...
de voce me ignorar ....
de voce maltratar ....
de voce a mao me dar...
de voce me beijar ....
de voce ficar....
de voce me namorar....
pra depois voce partir.

caçado
exilado
torturado
exumado
internado
no inferno
pra depois vc partir

experimente
experiente