quinta-feira, 28 de junho de 2007

Seu corpo

Eu vejo seu corpo abandonado em meio a entulho e grama suja. Agora você é um objeto, porque há algumas horas dei descarga na sua alma. Mas você ainda continua com rosto de menina. Desculpe, eu arranquei parte do seu cabelo. Seu joelho. Desculpe por ele também. Você não devia ter corrido, por que não me entendeu? Só dessa maneira para eu ter você nos meus braços.
Seus olhos, que eram castanhos, ficaram tão avermelhados, cheios de rugas nas órbitas. Aquele tombo foi brusco, uma tragédia. Não pude evitar: depois que você caiu e começou a sufocar, precisei espetar seu tórax. Não agüentei ver você em convulsão. Foi bem no osso, sei disso porque a faca ficou meio torta. Não sabia que você tinha tanto sangue no corpo, foi uma bagunça. Graças a Deus que sua família foi para o Paraná.
Flores brotaram de seu tórax aberto. Seus seios darão lugar a lindas flores que plantarei. Porque essa vai ser minha homenagem. Por que flores? Porque são iguais a você que com uma pequena brisa se estremece toda. Você era tão sensível, tão cheia de resmungos. Agora você esta aí no chão, com o pescoço torto. Se estivesse viva, você estaria reclamando do sol quente, do chão duro, da sujeira. Mas não, você está tão serena. Toda rochinha, coitada!
Agora que notei: você está de meias. Não sabia que usa meias para dormir. Agora sei tanto sobre você. Até hoje de manhã nunca tinha entrado na sua casa. Nunca tinha visto seu quarto. Foi uma surpresa achar seu uniforme da escola no armário. Fazem tantos anos. Eu queria fazer tantas perguntas. Mas agora não faz mal, tudo bem...
Filha da puta! Por que você não me entendeu?
Agora chega, eu preciso ir. Vou esperar sua irmã voltar da faculdade. Espero que ela me entenda melhor do que você.


R.F.S.

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