quinta-feira, 3 de abril de 2008

A Artesã Infante

Profissao de Fé
de Olavo Bilac

Não quero o Zeus Capitolino
Hercúleo e belo,
Talhar no mármore divino
Com o camartelo.

Que outro - não eu! - a pedra corte
Para, brutal,
Erguer de Atene o altivo porte
Descomunal.

Mais que esse vulto extraordinário,
Que assombra a vista,
Seduz-me um leve relicário
De fino artista.

Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.

Imito-o. E, pois, nem de Carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.

Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.

Corre; desenha, enfeita a imagem,
A idéia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
Azul-celeste.

Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.

Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:

E que o lavor do verso, acaso,
Por tão subtil,
Possa o lavor lembrar de um vaso
De Becerril.

E horas sem conto passo, mudo,
O olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo
O pensamento.

Porque o escrever - tanta perícia,
Tanta requer,
Que oficio tal... nem há notícia
De outro qualquer.
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A Artesã Infante

me deixe só por hoje.
nao quero o gosto de café,
do inicio do dia.
tão pouco o trabalho que judia.

ignoro agora o cheiro que nao me larga:
cheiro de suor em madeira entalhada.
limpo o escuro que nao enobrece:
trabalho de fazer carvao, que (lhes)enriquecem.

quero esquecer de minha mãe,
oito irmaõs, e a falta de um pai.
que sou sustento da comida,
paredes de barro, e telha que cai.

vou enjoar do gosto da cana:
boia-fria de toneladas.
sol de cada dia que engana,
enxadas em maos encaladas.

nao ouço mais o barulho dos carros:
cada 'nao', 'sim', ou 'coitado';
o 'tenho doce', 'salgado' e 'cigarros'.
'compra senhor?'. '-desculpe, sem trocado.'

sem mais homens que me metem.
autoridades que mentem.
meu sexo a venda em pontos turistas:
minha voz em silencio, de quase mulher, perdida.

nao necessito de mais futuro,
ja me basta esse meu decimo quarto aniversario.

e se alguem me disser:
"-tem muito ainda pra viver."

os meus olhos molhados replicarão:
o tempo de vida que ainda tenho,
é muito,
para o pouco de esperança que me resta.

2 comentários:

Anônimo disse...

huh. maysa.

virou encontro de familia agora. sua irma ainda continua fazendo lavagem cerebral em voce.

Tarsio V. Lopes disse...

ela é a irma bastarda.hahehahe.