quinta-feira, 10 de abril de 2008

incursao pirata em 'liliu et liricu' - primeira parte

pirataria em 'liliu et liricu' por priscila santos
Dominical-apaixonado
Em volta, tonto,
solto o ego afronto.
De volta, louco, denovo
cabeça de amor envolto.
Girando a 'béssa':
paixao, paixao, não espera,
dá voltas com pressa.
Sai, cai, corre, e respira.
Espirra, espirra
essa saudade que inspira
do tempo o ar
pra respirar
e não parar, parar de girar.
Envolto no tempo
que volto a mim,
volto aqui:
girando, afrontando o ego tonto
de paixao
de louco.
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Definir o estilo de qualquer um de nós poderia ser(e é) dificil em qualquer caso ou contexto. No caso de 'liliu et liricu' a tarefa se torna menos facil, não somente ao empecilho 'tempo', que faz com que qualquer estilo de qualquer autor se torne impossivel de ser analisado se não forem interpretados como fruto de uma constante evoluçao, mas tambem à forma 'experimental' como ele concebe seus poemas e projetos. Posso dizer que não consegui evidenciar um “estilo” nesse autor, mas em contraponto, posso descrever e analisar os temas tratados, assim como a sua vontade de encontrar um “experimental” diferente em cada projeto que se mostra independente. Atento ao fato de que se tomassemos seus temas ou suas incursoes como sendo “estilos” estariamos perdendo a riqueza que a analise em multiplos pontos de vista nos permitiria.

Rebuscamento morfologico, sintatico e semantico – caracteristica peculiar e muito bem trabalhada, o “uso” das palavras é algo muito aproveitado por liliu. Se percebe em alguns textos a tentativa de extinguir as inumeras possibilidades do uso delas. Nada mais esclarecedor para entender isto do que uma analise sintatica-estrutural do poema que escrevei acima tentando expor essas caracteristicas. O poema acima é basedo em “dominical-alado”(1), que na minha opiniao o autor conseguiu trabalhar muito bem no ritmo como em nenhum outro, tentei trabalhar bem o ritmo no poema, não priorizando as rimas, e sim utilizando(assim como ele) os recursos primarios da lingua portuguesa: os sinais de pontuaçao. É contraditorio lembrar-nos que na maioria de sua poesias(principalmente nas da fase dipersona) não existia preocupaçao com os sinais, e em algumas se observava o uso intensivo(talvez até exclusivo) das reticencias, e ainda sim se tinha os efeito desejados. Motivo: em alguns escritos o ritmo dado pela entonaçao e respiraçao era substituido pelas tonicas e rimas das palavras. Conciliar estes dois e mais formas de marcaçao de ritmo é algo que aprendeu bem. Em minha incursao creio ter pecado na rima em comparaçao com ele. Não por que seja melhor ou pior, mas devido apropria criaçao de algumas que desfazem o ritmo do poema. Coisa que imagino que ele não deixaria acontecer. As rimas com -AR abrem muito o ritmo, se distanciando fortemente do resto do texto. O “nao espera” no 6º verso tambem obriga uma forte queda na entonaçao, que força a quebra do andamento mais ritmico que vai do 1º ao 10º verso. De todas as caracteristicas a que mais gosto é a brincadeira semantica que se faz com as palavras e as vezes só com uma delas. Criando em cima dela um novo conceito, ou nos obrigando a ter em mente tres, quatro significados da mesma. Foi o que tentei fazer com a palavra “volta” e suas variacoes(“em volta”, “de volta”, “envolto”, “volto”). Exercicio é ler “se eu disser que acabou a inspiraçao”(2) com essa ideia de variadas conceitualizaçoes. As vezes(como em “se eu disser...”) todo o poema é feito só pra isso: dar ou explicar um conceito que foi ou sera usado em outros textos. Antes de terminar essa parte, devo explicar que não se percebe nos escritos dele um rigor na escrita ou nos vocabulos, pelo contrario, se vê uma clara insatisfaçao com as normas ditas cultas da lingua. O que da a entender que preferiria inventar uma nova lingua com os ditos erros, do que ser vitima do chamado preconceito linguistico.(continua)

(1)
Dominical-alado
em cada gesto-boca
solta o ego mais afronta.
de monte do movimento
tonta, tonta ela cai na terra.
se lavanta figura anda,
e boca, e a boca entoa
"crioulla" cançao que soa
soa e um pingo na roupa.

cesse. enternece, estremece, cesse

corpo inteiro,
alma em transe,
cabelo no bagunça.
e a minha "cala"?
que nao fala,
nao digo-te
te uma coisa
que nao digo.
nao por que nao
mas "pa" nao me crer
que me acredite.


(2)
se eu disser que acabou a inspiraçao
e quando falta inspiraçao:

doces versos que nao vem,
inebriantes vozes que nao escuto.
cantem ninfas,
quero ouvi-las sussurrar.

apelo para o pensamento
que nada novo de tem.
fiz das memorias
"sem-glorias" e versos.

companheiro meu
de oras e horas antes caladas,
o ritmo e rima
que demais nao sao mais expressos.

expira e transpira só vontade,
pois denovo algo nao vêm.
o que tem e me consola?
essa dor de sonetos contidos.

abandonas entao seu corpo
que usastes por pouco tempo. d
esfaça-me esse tal poder
que é o titero-poeta sem um fin.

como deixar-me pudeste?
musa de divina vida
que enriquece esse mero desumano,
o que fiz pra ti?

porque cala-te ate agora?
esse é o seu preço?
o silencio é o pagamento?
nao mereço tal resposta?

insiste em me desesperar.
e este zumbido branco.
e essa musica sem melodia.
onde termina sua puniçao?
e quando ela pouco responde:

deixe de dizer dores destes demais!
versos vão e vem, nao vê os de trás?
porque para pra pensar, pobre poeta?
dizer "pobre" versos, e pensar dores nao te aquieta?

do que lhe der, devolveras donde,
se voce vozes ouvir em versos?

e quando se cala:

pouco escuto de meus ouvidos,
menos ainda falo de minha boca,
e nada mais escrevo de minhas mãos.
tudo se foi! acabou a inspiraçao!

4 comentários:

'Di Persona' disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
'Di Persona' disse...

Achei que o poema "Dominical-alado" ficou muito bom. Ele apresenta uma estrutura diferente das que ja li(nao sei se inconciente ou nao), seus versos se fizeram independentes quanto a ordem e inflexiveis quanto a semantica , possibilitado assim uma leitura do ultimo verso ao primeiro.

Tarsio V. Lopes disse...

eu acho qeu nem ele percebeu isso. e realmente cabe a leitura inversa, nao se encaixa perfeitamente, ela cabe e nao destroi a forma ou estrutura do poema. parece ate que a sensaçao ritmica do poema continua ali do mesmo jeito.

Anônimo disse...

nem percebi mesmo, nem me toquei ou interpretei ele dessa maneira. observaçao invejavel essa.